sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Carta para a família (24/12/2010)

Kuwa na Krismasi njema  (significa Feliz Natal em Swahili)


Bem sei que a viagem vai longa e a minha ausência demorada, sem grandes certezas em relação à data de regresso. Tudo isso pode causar alguma preocupação e estranheza e eu percebo (ou tento perceber) os sentimentos de quem está desse lado, de quem se inquieta, preocupa e vive os percalços normais desta viagem de uma forma muito intensa.

Talvez a melhor forma que tenho de fazer perceber porque viajo por estas terras sem prazo e rota pré-definida é através da partilha das imagens e impressões que publico e tento actualizar sempre que posso. A maior parte das vezes é difícil dedicar tempo para o fazer mas prometo que não vou desistir e, embora atrasado, irei fazer o registo de todas as etapas desta viagem. Espero que sintam, um pouco pelo menos, que fazem parte desta aventura. Eu assim o sinto.

Poder estar aqui em Nairobi, pronto para visitar o Parque Masai Mara, um dos locais no mundo com mais animais selvagens, rumar de seguida para as praias paradisíacas do Índico, uma vez mais, embrenhar-me pelo Noroeste do Quénia e seguir para o Uganda, e por aí fora, é fazer aquilo que eu sempre quis. Do que mais gosto, o que me realiza mais é conhecer culturas diferentes, gente que olha a vida de outra forma, que tem diferentes maneiras de viver, outros hábitos. Poder ver isto tudo com os meus olhos, ter este contacto com estas pessoas realiza-me de uma forma muito intensa e considero-me muito grato por isso.
 
A viagem vai longa mas terá o seu fim. Gostava muito que o seu fim fosse com aí em Portugal, em casa, e de ter de ir prender o Safu e descer a rampa para colocar a mota na garagem. O que farei a seguir da minha vida nem eu sei. Serei capaz de o descobrir até ao final da viagem?!

Estou bem de saúde e tudo corre bem com a viagem. A sorte que se precisa sempre para tudo na vida tem me acompanhado e não me queixo. Parece que a “estrelinha” ou as “estrelinhas” ainda brilham. Há quem cuide de mim e que “me tem posto a mão” de quando em quando, sempre que tenho precisado. Ainda assim tenho passado momentos de algum sofrimento interior, coisas minhas e que só eu as poderei resolver. O facto de viajar sozinho, ter muitas dúvidas em relação ao meu futuro e poucas certezas faz desta viagem também uma jornada pessoal, um desafio interno.

Vou passando de país em país facilmente, sempre com a despreocupação necessária para se viajar por África e cada vez mais sei que terá de ser assim: um passo de cada vez. Deste modo irei chegar até onde quero (não será também assim com a vida?!)

Passarei mais um ano sem Natal e, uma vez mais, não estarei presente aí em casa para comer o bacalhau e o polvo da mamã e abrir os presentes à lareira.

Não terei Natal este ano.

Prometo que para o ano será diferente. Espero que seja um ano mais feliz o próximo. Desejo poder passar mais tempo com as pessoas que mais gostam de mim, a minha família, e desejo que, de hoje a um ano, estar a passar o Natal com todos vocês, a esfregar as mãos de frio, a comer os bolos de abóbora da mamã e da avó Céu e a beber umas garrafas (as melhores da garrafeira) com o pai.
A Xisca e a Laurinha receberão uma centena de presentes e tudo será normal. Tudo será agradavelmente normal.

Beijo grande e um Feliz Natal para todos (pais, avó e Tia Corina, Mana e miúdas, Tia Deti, Tiago e Olga, Tio Fernando, Filuxa, Inezoca e Luisinha e Safu e restante família) 
 
 
 
Algumas fotografias recentes:
 
Bem perto do Kilimanjaro (montanha mais alta de África)


Com os "Hadzabe" , uma tribo, no noroeste da Tanzânia


 Com os Massai, no norte da Tanzânia
 

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