segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Uganda: Pérola de África (Parte 2)

O destino depois de Kampala foi o Lago Nkuruba na parte Oeste do país.
Se o Uganda é a pérola de África muito deve a sua fama à zona Oeste: região de lagos, montanhas e parques naturais.

 É impossível ter um momento de privacidade em qualquer aldeia do Uganda

Companheiro de estrada por breves momentos (um Suíço que viaja desde o Quénia até ao Uganda)

 Corte de cabelo: Uganda´s Style

A cinco horas da capital, perto da cidade de Fort Portal, o lago Nkuruba faz parte de um conjunto de lagos da região. A escolha deste local foi fácil pois este é o mais bonito e um dos únicos lagos rodeado de floresta.
Apenas outro carro se encontrava no parque de campismo que escolhi o que tornou a minha estadia ali muito calma e relaxante.
Centenas de macacos, Colobus brancos e negros, entretinham-se durante o dia brincando junto da tenda e da Miss AN. Os seus gestos, suas poses e brincadeiras são idênticas às de crianças e é sempre um espectáculo divertido estar tão perto destes primatas.


A subida até ao acampamento

"You´ve earned it" :)









Macacadas... Por vezes é difícil distinguir os seus gestos dos humanos


Na manhã seguinte dei uma volta nas aldeias circundantes e conversei com alguns dos seus habitantes. As crianças, claro, adoram correr atrás do estrangeiro e pousar para a fotografia.
Ao longe as imponentes montanhas que delimitam a fronteira com a República Democrática do Congo (ex-Zaire) fazem parte da paisagem.











As aldeias circundantes do Lago Nkuruba e seus simpáticos habitantes


Rumando a Sul passei pelo Parque Nacional Rwenzori e das suas legendárias Montanhas da Lua que Ptolomeu descreveu em 350 AD afirmando que seria aí a nascente do Rio Nilo. É a cordilheira de montanhas mais altas em África e alguns dos picos estão permanentemente cobertos de gelo e glaciares. Salta à vista o Monte Stanley, a terceira mais alta montanha de África com 5109 metros. Devido à sua beleza e biodiversidade este Parque foi considerado Património da Humanidade pela Unesco.

Pouco depois passei, uma vez mais, a linha do Equador. Estava agora no hemisfério Sul e por cá vou continuar nos próximos meses, até chegar ao Gabão, do outro lado do Continente.


 Uma vez mais a atravessar a Linha do Equador, desta vez no Uganda

Seguiu-se a entrada no Parque Nacional Queen Elizabeth, quase sem querer. Em vez de seguir para sul através da estrada principal em alcatrão optei por conhecer o Lago Edward e entrei por uma estrada de terra batida que atravessa o parque.
Sem GPS limitei-me a seguir o trilho e quando a tarde já ia a meio comecei a pensar num local para pernoitar. Acontece que apenas com a ajuda de um pequeno mapa do meu guia não consegui encontrar a saída para o hotel recomendado e dei por mim no meio de um parque cheio de animais selvagens, (estes não são "domesticados" como em Masai Mara) procurando um sítio para passar a noite.

Algum tempo de procura e...cheguei a uma das fronteira para atravessar para o Congo, numa das regiões mais perigosas e a evitar daquele país.


A atravessar o Parque Nacional Queen Elizabeth
 
 
 Perdido cheguei à fronteira com a RDC
Rapidamente dei meia volta e uns quilómetros depois consegui entender onde me tinha enganado.
Entrando por um desvio decidi ir para a vila mais próxima, a relativa pouca distância mas numa estrada sofrível, e já com pouca luz encontrei uma placa de um hotel. Calculei imediatamente tratar-se um hotel caro, fora das minhas possibilidades (só de ver a placa) e depois de passar o aeródromo privado do hotel, onde os hóspedes chegam para ver os gorilas na Floresta de Bwindi, entrei por um portão enorme cheio de seguranças.
Imediatamente apareceu um empregado, muito bem vestido, e que me perguntou em bom inglês se podia ajudar.

- Claro que pode, preciso de um local para ficar apenas durante esta noite. Será possível montar a tenda no relvado do hotel (a propriedade do hotel era enorme e nem se conseguia ver os seus limites)?
- Não, isso não será possível.
- Então e um quarto simples, arranja-se?
- Claro, são 130.
- 130 quê?
- USD.
- Pois, boa tarde e obrigado.


Esta conversa passou-se estando eu em cima da mota, sem sequer tirar o capacete (já calculava o desenrolar daquela conversa) e deste modo foi mais rápido sair dali rapidamente e tentar procurar um sítio para o meu nível...
Passado uns vinte minutos, já escuro, depois de ter perguntado a todas as pessoas que encontrei na rua ( que falta me faz o GPS) encontrei um hotel para locais, acessível, limpo e confortável. Paguei 8 USD.

O dia seguinte passei-o em cima da mota e não me posso queixar. Atravessei o Parque Nacional Bwindi (conhecido como o "Impenetrável Bwundi").
Um dos mais importantes e conhecidos parques de toda a África, este local consiste num grupo de montanhas de floresta tropical e serve de abrigo a quase metade dos gorilas de montanha de todo o mundo.


"Impenetrável Bwundi"
 
 
 A difícil estrada até chegar à entrada principal do Parque

Uma das placas avisando a população local que "os gorilas são nossos primos" 

A entrada no Parque: eu e a Miss tivemos de ficar à porta... 

 Placa dedicada a um grupo de turistas que morreu nestas montanhas há anos atrás assassinado por uma guerrilha que veio através da RDC


A Floresta Impenetrável, como também é conhecida, é um dos habitats mais antigos do continente uma vez que na Idade do Gelo (há mais de 15.000 anos atrás), quando quase todas as outras florestas de África desapareceram, esta sobreviveu.
Além dos gorilas este local tem também uma enorme diversidade de fauna e flora.

Os 500 USD para umas horas de caminhada pela montanha para ver um dos grupo de gorilas (sem garantia de os ver efectivamente) está fora do meu orçamento e, mais que isso, tenho muitas dúvidas na forma como as receitas astronómicas geradas por este tipo de turismo estejam a ser canalizadas para o Parque e para os habitantes das redondezas, como anunciado.
Posto isto, em vez de seguir os gorilas, segui antes por um caminho, longe da estrada principal (que já está em más condições) em direcção a sul, andando durante horas na floresta.
Existe uma estrada que passa, em algumas zonas de Bwindi e mesmo sem ver qualquer animal a experiência de atravessar aquela floresta, sem qualquer movimento, com o barulho próprio daquele local, interrompido apenas pelo roncar da Miss An, foi uma experiência marcante e um dos momentos mais bonitos que vivi no Uganda.






















A minha maneira de visitar o Bwundi. Os gorilas ficam para outra altura... 


Parando dezenas de vezes para falar e fotografar pessoas e paisagens não foi de estranhar ter chegado ao meu destino, o Lago Bunyonyi, mais tarde que o previsto.
Na hora que comecei a descida para o bonito lago o sol estava a pôr-se o que tornou o momento memorável, e a "cereja no topo" de um dia inesquecível a conduzir.


Chegada ao Lago Bunyonyi no final da tarde de um dia inesquecível

O Lago Bunyonyi é segundo muitas pessoas o lago mais bonito do Uganda e aí iria ficar alguns dias a dedicar-me exclusivamente ao relaxe (prática que vou começando a dominar).
Acampado junto da margem do lago, num relvado de um discreto hotel, deixei-me estar, entre leituras, a actualizar o blog, sempre ao som de boa música e dando umas voltas de barco pelas redondezas.

Conhecido como "Lugar dos muitos pequenos pássaros" este lago, junto à fronteira com o Ruanda, situa-se quase a 2000 metros de altitude e a sua profundidade varia entre 40 e 900 metros o que o torna o segundo lago mais profundo de África.
Além disso é um dos únicos lagos da região onde se pode nadar sem problemas de doenças o que o torna um destino muito popular entre os turistas.
Eu confesso que apenas por uma vez me atrevi a dar um mergulho no lago, não por ter medo de qualquer doença, mas por estar habituado a águas bem mais quentes... 
 

 
 
 
 
 
 
 
 
 Um local especial, este lago
 
Uma das muitas ilhas e a única a que me aventurei a remar numa canoa tradicional é a conhecida Ilha de Bakinga.
Esta minúscula ilha era usada até à pouco tempo para deixar as mulheres grávidas que não eram casadas para assim morrerem de fome. Claro que podiam sempre nadar até à costa (a distância não é muita) mas parece que natação não era muito popular na altura entre o sexo feminino.
Também os homens poderiam salvar a rapariga mas teriam de ter suficientes cabeças de gado para poder pagar o dote respectivo, logo não eram muitas as mulheres que sobreviviam a Bakinga.
Coisas de África...


 Ilha de Bakinga
 
Finalmente segui para o Ruanda, depois da energia recuperada neste bonito lago.
 





 Arredores do Lago Bunyonyi, perto da fronteira com o Ruanda.
"I LOVE UGANDA"
 A fronteira ficava a poucos quilómetros e rapidamente cheguei até Kigali, a capital do Ruanda, onde um país muito especial me esperava e onde passei momentos muito especiais.