quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Safari no Quénia: Masai Mara e Lago Naivasha


Nem mesmo o clima de Nairobi, com temperaturas amenas próprias da altitude em que a cidade se estende (acima dos 1500 metros), fez com que sentisse o Natal como...Natal.
Não sendo o primeiro que passo longe da família, da lareira acesa com cheiro de lenha queimada, doces de abóbora e bacalhau, custa sempre passar esta data longe de casa e desta vez não foi diferente.

Depois do jantar do dia 24 ser passado a comer todos o tipo de carnes num restaurante bem conhecido da cidade (crocodilo, avestruz, camelo, borrego, etc) no dia seguinte integrei-me num pequeno grupo para uns dias de safari em Masai Mara.

Nunca havia feito tal coisa. Tenho passado ao lado de locais conhecidos para observar animais como Etosha na Namíbia, Park Kruger na África do Sul, Gorongosa em Moçambique, Ngorongoro na Tanzânia, etc. e a verdade é que nunca tive grande vontade de me juntar a um grupo de turistas para ver animais. Vou preferindo as aldeias, as pessoas e seus modos de vida.
Tal como a minha mãe sou capaz de passar um dia inteiro sentado numa esplanada (ou numa qualquer sombra de uma aldeia) e aí ficar simplesmente a observar, a ver a vida dos outros, vidas tão diferentes da minha, das nossas, longe do conforto da rotina de uma cidade europeia.
O valor pedido para fazer este tipo de safari também não ajudava a que me entusiasma-se e sendo assim só no Quénia, com preços mais convidativos, tive vontade de o fazer, seguindo deste modo para Masai Mara.
 
Não sendo o maior parque do Quénia, com uma área de 1500 km2, o Masai Mara é de longe o mais famoso.
O grupo dos "cinco grandes" (big five) pode ser encontrado aqui, embora os rinoceronte-negros sejam escassos e muito difíceis de serem avistados. Quanto aos restantes (leão, elefante africano, búfalo e leopardo), é provável de "esbarrar" com qualquer um deles. Além destes, centenas de outras espécies de animais podem ver-se facilmente por aqui sem que seja precisa muita sorte.


Uma das entradas para o parque mais famoso do Quénia






 











 Alguns dos animais mais belos vistos em Masai Mara
 Como no Serengueti, os gnus são os habitantes dominantes aqui. Em Julho de cada ano, estes animais migram a Sul, para as planícies do Serengueti  buscando pasto fresco e voltando para Norte em Outubro.
A migração envolve qualquer coisa como um milhão e meio de gnus, meio milhão de gazelas e duzentas mil zebras que são atentamente seguidos pelos seus predadores (leões, hienas, leopardos, etc.).
A grande migração, como é conhecida, é uma dos eventos naturais mais impressionantes do planeta.
Quem não tem as imagem das savanas africanas recheadas de gnus, da travessia destes pelo rio Mara e do banquete que os crocodilos gozam aquando dessa travessia?! 
Grande parte das pessoas guarda imagens de África, da África dos animais selvagens, imagens retiradas deste local.
Também eu tinha em mente as cenas destes animais que me foram transmitidas através de documentários do Nacional Geographic, transmitidos nos sábados ao almoço. Agora, estando ali, a poucos metros de um leão, de um leopardo ou de uma hiena, parte de mim estava ainda na cozinha dos meus pais, sentado à mesa a comer um frango com natas com os olhos postos na televisão.






 Planícies maravilhosas


Rio Mara "carregado" de hipopótamos e crocodilos
Vi tudo o que podia ter visto.

O cenário é de facto fabuloso: savanas a perder de vista e animais por todo o lado.
Dentro de uma carrinha Hiace, tipo candongueiro de angola mas descapotável, andámos e andámos até todos estarmos satisfeitos, o que significa tirármos todos as fotografias que pretendíamos.

O que mais me surpreendeu (ingenuamente, foi algo que nunca pensei antes)  foi o facto de grande parte daqueles animais estarem habituados a nós, aos humanos. 
Imaginem leões, leopardos, girafas, elefantes e gazelas juntos com dezenas e dezenas de carros, diariamente a entrarem no  espaço destes animais, parando muitas vezes a poucos metros, ainda com o motor a trabalhar, ficando ali parados disparando flashes.
Os animais, apesar de selvagens, vivem num parque protegido onde o seu número é controlado e o seu habitat permanentemente "invadido" pelo Homem.

Para ser mais claro dou dois exemplos:
- Ao longo desta viagem já vi muitas gazelas. Muitas passaram por mim, a poucas dezenas de metros, fugindo tão rápido como podiam (quem já foi a Angola sabe como correm as gazelas quando raramente são avistadas). Em Masai Mara vi centenas delas a poucos metros do carro a olharem para mim, sem sequer parar de mastigar a erva que comiam.
- Depois de algum tempo a procurar animais deparámo-nos com mais de vinte carrinhas estacionadas na berma da picada. Todos olhavam com os olhos arregalados para um leão, um majestoso e preguiçoso leão (durante o dia os leões, leoas e as pequenas crias pouco fazem, estando mais activos durante a noite). Este simba (leão em swaili) limitou-se a "sorrir" para a fotografia e depois de longos minutos levantou-se enfastiado, seguindo o seu caminho.

Várias vezes tive de me lembrar que não estava num zoo, nem que estes animais estavam ali apenas pousando para a fotografia.

O momento mais impressionantes que assisti foi após termos chegado a um local pouco tempo depois de um grupo de leões ter matado um antílope. Ali ficámos bastante tempo a ver o grupo devorar o animal, percebendo toda a clara hierarquia que existe na alimentação do reino animal. Desse modo, o primeiro é o macho alfa, comendo até se fartar, seguido dos outros machos, leoas e crias. Só depois do grupo satisfeito, chacais, hienas e abutres têm direito a um pedaço. A espera deste animais, sempre atentos, prontos a atacar um naco de carne ou até um osso, pode ser de horas sem qualquer certeza da recompensa desejada.




Banquete para o grupo de leões enquanto todos os outros animais esperam a sua vez


Pessoalmente, o leopardo recebe o prémio de animal mais belo, a girafa a do animal mais engraçado, o leão o do mais poderoso e a hiena o do animal mais bizarro e assustador.




O belíssimo Leopardo
As desengonçadas e engraçadas girafas
 Simba: o rei do pedaço

 Bizarra e assustadora hiena


Assim eu vi Masai Mara.

Depois do safari em grupo segui para o lago Navaisha, já com a companhia da Miss Africa.
Com a revisão feita foi com muito prazer que rolei para noroeste de Nairobi e fiquei uns dias nas margens do lago a explorar aquela região.

Este lago, com cerca de 13 quilómetros de água doce, oferece a possibilidade de ver hipopótamos, águias-pescadoras e uma vegetação muito variada. Nas suas margens outros animais selvagens podem ser vistos: girafas, macacos, antílopes, hipopótamos, muitos macacos entre outros.

Foi o que fiz. Depois de uma volta de canoa pelo lago encostámos numa das margens e fomos dar uma volta. A poucos quilómetros girafas, zebras e macacos andavam soltos e podendo estar bem próximos. A sensação de estar perto de um destes animais, sem estar enfiado num carro, de andar junto deles, sentindo a sua curiosidade e seu receio foi uma experiência única e marcante. Mais do que Masai Mara, senti-me parte da Natureza, senti-me como uma mais espécie no meio de tantas outras.
 Vista do Lago Naivasha vindo de Nairobi




 Experiência única a de estar com estes animais
O recibo de pagamento para entrar no parque foi improvisado no meio da savana 



Flamingos rosa


 O Lago Naivasha e seus hipopótamos


Dois dias passados no lago e estava na hora de voltar a Nairobi para comemorar a entrada em 2011. Não foi grande a comemoração pelo ano que passou. Que 2011 seja um ano muito feliz para mim e para todos.

Já no novo ano e cheio de saudades de dar um mergulho no "doce" Índico segui para a costa do Quénia.

Muita história, águas claras e mornas e...burros esperavam por mim para mais duas semanas de aventura.

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