terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Até Pemba (Moçambique)

E porque a viagem se faz pela estrada e (quase) nunca esticado numa rede em frente da praia, tinha chegado a hora de arrumar a trouxa e seguir o meu caminho. A algumas centenas de quilómetros para norte tinha como destino a cidade costeira de Pemba.

Pelo caminho parei em Chiúre, uma pequena vila, com uma carga especial para mim. Na altura estava a precisar de descanso e de pôr "alguma coisa no estômago" e tudo pareceu perfeito: enquanto abastecia a mota deparei-me com um restaurante, pequeno e demasiado limpinho para o padrão local. Com uma esplanada agradável, resolvi ficar para o almoço. Na entrada uma placa anunciava o menu do dia:

"Prato: Pato guisado com arroz de cenoura
Sobremesa: Salada de Fruta
Café
"


Qualquer pessoa sabe que um menu destes, deliciosamente simples, só pode ser feito ou pensado por um português.
No Chiúre, um local com infraestruturas muito básicas, uma pequena vila a milhares de quilómetros dea capital Maputo, encontrar algo assim é como ir a passear por uma rua secundária em "Alguidar de Baixo" e encontrar um restaurante que anuncia um  "Biscuit tiède de chocolat coulant" para a sobremesa.
 
Pedi então o prato e perguntei ao empregado quem era o responsável por tal estranho mas agradável menu.

- Ah, isto é da Mamã Esmeralda.

Pouco depois, enquanto devorava o pato, uma senhora apareceu na esplanada e perguntou-me como estava o almoço.

A Srª Esmeralda Correia, dona e gerente, juntamente com o marido, daquele restaurante e de muitas lojas, armazéns e hectares de terra no Chiúre está  há muitos anos por lá e continua cheia de projectos. De uma simplicidade e simpatia rara, esta senhora cheia de energia falou-me da sua vida de outros tempos, dos seus projectos, suas dificuldades e conquistas. Todos na vila respeitam muito a Mamã Esmeralda.

Despedi-me com pena desta nobre senhora e fui, a pouca distância dali, conhecer outra mulher incrível: a Irmã Cândida, das Irmãs Salesianas.
Este grupo católico, com a ajuda de jovens de todo o mundo em regime de voluntariado, oferece o seu trabalho aos habitantes do Chiúre e arredores. Guiado pela Irmã tive oportunidade de visitar a Escolinha, um espaço de tempos livres para crianças até aos 6/7 anos e de me deliciar com as brincadeiras destes pequenos.





Escolinha para crianças carenciadas no Chiúre

É sensibilizante ver a relação que estas crianças, muitas órfãs, ou sem qualquer apoio dos pais cria com os educadores, com as Irmãs, voluntários ou qualquer pessoa que esteja disposto a lhes dar atenção.
Passar ali algumas horas a falar com a Irmã, educadores e crianças fez-me entender melhor a realização que se pode alcançar ajudando os outros.

Sem qualquer apoio do estado a gestão de todo este processo de ajuda é extremamente difícil o que torna as pessoas envolvidas nele, os verdadeiros heróis do nosso tempo.



"Que bandeira é essa? - perguntei a estas meninas.
"Êssá é a bandêrá do Guêbuza!!!" (PR de Moçambique) - responderam-me em coro...
- Mas meu filho, eu não consigo entender porque viajas tanto assim, mas apesar de não conseguir perceber o objectivo de tal viagem vai com Deus e que ele te guie no teu longo caminho. - disse-me a Irmã Cândida enquanto caminhávamos.

- Irmã, viajo para ver com os meus olhos lugares como este e conhecer pessoas como a senhora. - respondi.

Sinceramente tive vontade de ficar e ajudar. Pensei nisso durante os dias que se seguiram. É uma ideia que se mantém.
O Mundo precisa de mais Irmãs Cândidas.



Segui no final do dia para Pemba onde me esperava o André, um amigo que conheci em Maputo. Iria ficar em casa dele e demorar-me por lá.
Afinal de contas Pemba tem praias fabulosas e pessoas muito interessantes.

Não é difícil perder a noção do tempo quando se está entre amigos.


Um dos muitos bairros de Pemba com vista para o "Pemba Beach Resort&Spa"
África é sem dúvida um Continente dos contrastes.


Escadas de acesso à praia de Pemba (a 30 seg. da casa do André)




O paraíso podia chamar-se Murrebué



Em busca dos caranguejos para o almoço


Praia principal de Pemba - Wimbe

3 comentários:

  1. Só agora reparei nessas fotos da escolinha do Chiúre!!!
    "bom dia, bom dia, bom dia irmã Cândida como vai?!" - este era o inicio da música de boas vindas lolol
    Q Saudade!!!
    E a salinha de leitura tem umas flores pintadas por mim na parede!!! Na sala ao lado vacinei todas as criancinhas e titias... Por baixo da enorme mangueira do pátio fizemos o teatro com fantoches feitos de meias...
    Q Saudade do Chiúre, dessas gentes de melodiosos sorrisos e olhares de mtas vidas vividas...
    Quem passa no Chiúre trá-lo no coração.

    As irmãs acolhem como ninguém e com uma bondade de coração q nos sentimos pequenos...

    Saudade ao meu Chiúre.

    Eu ;)

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  2. Olá! Como faço para colaborar com essa escola? Vou ficar 22 dias em
    Moçambique, tenho roupas para doar novas para crianças nessa idade e depois tenho interesse de ir até pemba!

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  3. Muitas saudades dessa terra também :) Passei lá uns meses em 2015, entre Chiúre e Ocúa, à beira do rio Lúrio. Pessoas extraordinárias que nunca mais esquecerei, e que me fizeram sentir em casa. A começar pela Dona Esmeralda! Quando a conheci já era viúva, mas continuava com uma determinação férrea e cheia de projectos!

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