terça-feira, 15 de novembro de 2011

A Chegada

E ali estava eu, depois de qualquer coisa como uma hora de ferry (mais confortável do que qualquer avião), atravessando o Mediterrâneo, a passar de um continente para outro.

Como todos sabem, milhares de pessoas (chamados de imigrantes ilegais) tentam entrar na Europa, sobretudo através de Espanha e Itália.
Tenho consciência de que estive com africanos que desejariam tentar uma vida melhor, mais confortável e que tal passa por tentar chegar à Europa.
Vi-os em muitas das embaixadas europeias em países como a Nigéria e esperei com eles para também eu ali ser atendido.
A grande maioria não tem dinheiro, nem habilitações que os possa fazer entrar em solo europeu, tornado-se  assim viajantes ilegais.

Estimam-se que cerca de 20.000 homens, mulheres e crianças todos os anos partem do norte de África em pequenas embarcações artesanais e chegam às costas do sul da Europa.
Uma das rotas principais passa  precisamente onde me encontrava, Tânger, e chega às praias de Algeciras. Outra, mais recente, parte do Senegal ou da Mauritânia e tem como ponto intermédio as ilhas Canárias. De Marrocos às ilhas Canárias são 160 quilómetros de distância. Do Senegal ou da Mauritânia, são cerca de 1500 quilómetros.
As máfias de tráfico humano exploram este rentável negócio e quem sonha com outro tipo de vida, uma vida sem tanta dificuldade, desilude-se rapidamente assim que chega a solo europeu. E são pessoas com sorte, os mais resistentes que sobrevivem ao deserto, ao mar, às máfias e à polícia. 
Também nós, aqui no nosso país, que nos parece por vezes tão desinteressante e onde parece haver tão poucas oportunidades se encontram pessoas dessas e muitas mais dariam tudo para aqui estar.

Depois de passar por quase 40 fronteiras (em alguns países entrei mais do que uma vez) estava agora a poucos metros de passar a migração espanhola.
Com passaporte europeu tudo é fácil e assim, bastou apresentá-lo que logo a cancela se abriu, podendo estar com os meus pais que me esperavam do outro lado da estrada.

Um grupo de amigos veio de Lisboa e Alcobaça receber-me. Alguns não conhecia e tive o grande prazer de ficar a conhecer, entre cervejas e uns petiscos.
Foi de facto um privilégio ter sido recebido pelos meus pais e amigos, tendo feito os quilómetros até Portugal com este grupo bem-disposto.

Entre algumas paragens, um grande almoço num bom restaurante alentejano (e como eu tinha saudades da nossa comidinha...) e muitas fotografias na estrada cheguei a Queluz onde pude matar as saudades da restante família.
  


O grupo em Tarifa, Espanha


Grandes companheiros de estrada


Deixei Pilas para trás e segui para Portugal :)



Enfim, Portugal


Enfim a nossa comidinha boa, regada
por um tinto alentejano



Que grandes companheiros...



A chegada a casa



Estou em casa depois de uma viagem que durou 14 meses, atravessando 31 países e tendo feito 51.000 quilómetros.
A Miss está cansada e claro, eu também. 

Viver longe de África?! Sou capaz, mas não é a mesma coisa. 

Obrigado por acompanharem esta viagem e...sejam loucos.

“As mais sensatas loucuras, são as mais puras alegrias.
Tudo que fizemos deixaremos de recordação para aqueles que um dia pensam em ser como nós. Talvez loucos, porém felizes!!!!”


9 comentários:

  1. Gonçalo,
    acompanhei por aqui a tua viagem durante todos estes meses. estive em luanda, em marrocos e agora em lisboa e sempre tive o cuidado de ver a tua progressão por áfrica acima e a torcer para que a tua estrela te iluminasse durante todo o trajecto. é com emoção que vejo as tuas imagens da chegada. os portugueses têm fibra de viajante e tu representas esse nosso espírito.
    espero que faças uma boa digestão deste acontecimento, pois começa agora a segunda parte da viagem.
    Um abraço,
    André
    Lisboa

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  2. Espero que continues a escrever, se possivel com fotos de outra viagem...

    Abraço,
    A Neves.

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  3. Oi Gonçalo!
    Faz tão pouco tempo que eu estou aqui acompanhando suas viagens, mas mesmo assim me emocionei com seu texto.
    Infelizmente ainda não conheço nenhum país da África, mas estudo muito sobre este continente, desde os tempos da Núbia, antes da divisão imposta pelos colonozadores e neocolonizadores.Sou professora de História e trabalho a história da África com meus alunos para que eles conheçam a história dos seus antepassados antes de serem forçados a vir para o Brasil trabalhar como escravos. Tarefa necessária para trabalhar outro tema tão difícil: o preconceito racial.
    Espero que vc encontre bons caminhos nesta nova etapa.
    Bjs.

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  4. Simplesmente para te agradecer por tudo o que partilhaste connosco ao longo da tua viagem!

    Muito obrigado,
    Jorge Cordeiro

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  5. Grande Gonçalo. Parabens.

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  6. Parabéns Gonçalo...
    Agora ... talvez a etapa mais dura e dificil de todas... o regresso ao quotidiano...
    Abraço
    Pedro
    www.luandamaputobybicycle.blogspot.com

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  7. alucionante parabens adorei gostava de um dia poder fazer essa viajem. sorte e brigado por partilhares

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  8. Parabéns pelos excelentes relatos que só agora descobri e li e votos de que essa alma de viajante perdure. Porque não um livro? Um abraço

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  9. Parabéns Gonçalo, somente agora conheci essa sua viagem. Li todos os tópicos como se estivesse te acompanhado em 2011. Achei em você um professor de História. Já fiz a América do Sul quase toda, mas nada se compara à África,um dia quem sabe.

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