sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Gana (s de ficar)

A minha entrada no Gana foi um processo longo e difícil.
Depois de no dia anterior me terem recusado o visto na embaixada do país em Lomé, resolvi tentar a minha sorte e ir até à fronteira, mesmo não tendo a permissão de entrada (regra de ouro em viagens por África: nunca aceitar o não como resposta; há quase sempre uma solução para tudo).
Chegado ao caótico local onde controlam os passaportes pedi para falar com o chefe da migração e assim, sem sequer ter carimbado a saída do Togo, entrei no edifício de migração do Gana.

- "Este é o meu problema: não tenho o visto do Gana e na embaixada em Lomé dizem-me que tenho de ser residente no país para o obter. Estou preso aqui e quero entrar no Gana pois tenho lá toda a família à espera." - tentei deste modo (aldrabado, confesso) explicar a minha situação  às autoridades da migração.
Os meios utilizados haveriam de justificar o fim....

Nesse momento estava dentro de uma sala apenas com o chefe da migração.

O senhor, um oficial impecavelmente vestido, explicou-me que seria muito complicado obter o visto, que teria de ser de emergência, o que é apenas para casos extremos como o nome indica; apenas situações de emergência.
Mas obviamente quem decide o que é emergência ou não é ele e então a minha entrada no Gana ficou logo à partida "agarrada" a esse pormenor; a minha futura rota e a forma como iria passar os próximos dias estava assim nas mãos daquela pessoa.

E não tenho vergonha nenhuma em dizer que para o convencer tentei usar estratégia emocional. Sabia que no final tudo se haveria de resumir ao dinheiro que estaria disposto a pagar para a obtenção do visto mas ainda assim tinha de fazer o meu papel: a história consistia em ter a minha família em Acra à minha espera.
Iria assim ver a família depois de largos meses de viagem e ali seria o encontro pois o meu pai e o meu irmão trabalhavam numa empresa de construção portuguesa a operar no Gana.
Expliquei porque não tinha previamente tirado o visto para o Gana o que era a mais sincera das verdades pois as embaixadas nos países por onde tenho passado não emitem vistos para não-residentes.
Uma vez que tinha saído de Portugal à praticamente um ano tinha sido impossível para mim ter conseguido o que me pediam, o visto tirado no meu país de origem.

E até nem era grande a mentira pois tinha de facto pessoas à minha espera no Gana, ainda para mais portugueses.
Mesmo  não os conhecendo, sentia que que estaria entre amigos (há coisas que se sentem...) e sinceramente estava farto de falar francês, cansado de dormir na tenda e de estar com alemães (os poucos viajantes com quem me cruzara nesta costa de África). Definitivamente ia-me saber bem estar com tugas, falar de futebol e da "terrinha" enquanto bebíamos umas cervejas no conforto de uma capital "quase europeia".


Mesmo assim o senhor continua a dizer que eu devia ter-me precavido para aquela situação, que a culpa era minha e que precisava de confirmar que a minha família estava de facto no Gana: pediu-me assim o número de telefone para ver se o que dizia era verdade.
Sem hesitar entrei no jogo e com um bluff digno de um jogador de póquer apostei tudo.
Tinha pouco a perder e sabia para onde a conversa se encaminhava. Já passei tantas vezes por isto...

Fiz-lhe ver que a minha entrada no país estava nas suas mãos, tentei fazê-lo acreditar que me tinha bem agarrado; pedi-lhe um favor especial, tentei apelar à sua bondade para poder "estar com a  minha família".
No fundo sabia o que ia acabar por acontecer: ele iria ceder, iria pedir algo e eu iria dizer a quantia pedida era muito elevada para mim, um viajante de moto que viaja há tanto tempo por África.
Sabia que tudo se iria resolver, de uma maneira ou de outra e que todos ficaríamos a ganhar no fim.

O certo é que as coisa correram como previsto.
Ele resolveu-me ajudar (o que foi segundo ele uma grande responsabilidade) e concedeu-me o visto de emergência que apesar de caro (150USD), era a única maneira de entrar no país.

Como esperado, além do valor do visto, pediu-me um "petit cadeau".

-"Quanto?", perguntei.

- "Darás o que o teu coração sentir que deve dar." Respondeu-me assim; adoro esta resposta. Várias vezes a recebi em situações do género.

Bem, o meu coração achou por bem dar-lhe pouco mais do que 10 USD e depois de o fazer, apertamos as mãos, acabando ali a conversa.

Com menos um problema, sai com o visto na mão e foi a vez de fazer entrar a Miss.
Se obter autorização para entrar no Gana foi complicado, arranjar forma de entrar com a Miss foi uma guerra de paciência, nervos e burocracia.
O cenário não foi muito diferente do anterior: sala do mais alto responsável da alfândega daquele posto fronteiriço (o principal entre aqueles dois países), com a companhia do seu assessor.

- "Você precisa dos documentos. Sem eles não poderemos deixá-lo entrar no país. Tem de cumprir as regras." - dizia-me o chefe.

- "Eu já lhe mostrei os documentos todos que tenho. Estão todos em cima da mesa." - explicava apontando para o que tinha colocado na sua secretária.


O que eu tinha colocado em cima da mesa era o Documento Único Automóvel (DUA) mas o chefe, visivelmente exasperado, continuava a dizer-me que aquele documento não servia para nada, e que eu precisava de lhe dar "os papéis da mota".
O que ele queria ver eram papéis, seja lá isso o que fosse (e quem sabe como é o DUA pode tentar melhor imaginar a cara do senhor quando eu lhe dizia que ali estava tudo o que ele precisava para provar que a mota era de facto minha); mas para ele não podia ser, era demasiada informação para ser ter apenas num "papelito" daqueles.
Fui então até à mota e trouxe-lhe tudo, espalhando todos os documentos que transporto comigo na sua secretária: carta de condução internacional, carta de condução portuguesa, registo de propriedade angolana, cartão de vacinas, etc.
Se o que ele queria era papelada ali tinha muito com o que se entreter, pensei.

Que cena ridícula era aquela...e nada o satisfazia; a Miss não podia entrar e ponto.
Enviou-me então para outro departamento (nisto tinham já passado várias horas desde que tinha chegado aquela sala), onde falei com uma senhora simpática, chefe daquela secção que me pareceu bastante competente e prestável.
Rapidamente achou forma de fazer a Miss entrar, engendrando a melhor forma de aplicar as leis (que teriam sempre de ser aplicadas) ao meu caso.
De facto eu estava numa situação bastante peculiar pois a maioria dos viajantes que por ali passam apresentam Carnet de Passages, o que torna tudo muito mais simples. Quem não traz esse documento tem a mota matriculada num dos países que fazem parte de uma comunidade qualquer e também para esses o procedimento é fácil e directo.

Mas para mim, sem Carnet e sem muitos "papéis",  tudo foi mais difícil, mais caro e "suado".

Por fim, a solução encontrada passou por encontrar uma empresa especialista nestes assuntos à qual paguei uma fiança (calculada através de uma estimativa do valor da mota) e que garantiu numa carta formal que eu não venderia a mota no Gana.
Todo esse processo (o da mota) demorou mais do que cinco horas e naquele pequeno espaço já todos me conheciam, sendo os próprios funcionários a pedirem uns aos outros para me despacharem pois viam que eu estava ali a transformar-me na mobília do departamento.

Digo-vos que quase precisei de comprar um dossier para arquivar o processo da Miss An tal era o número de folhas que me foi entregue, em triplicado...enfim burocracia africana no seu pior.

Tudo resolvido finalmente e quase no final da tarde estava por fim despachado; tinha ainda uns duzentos quilómetros à minha frente até Acra.
Liguei ao Ricardo, disse-lhe que iria a caminho e que chegaria no final do dia.
Conforme a previsão, depois de apertar com a Miss nas excelentes rectas de asfalto, chegámos a Acra onde já esperavam por nós.


Fronteira do Gana (quase fui preso por tirar esta foto mas ficou o registo... T.I.A.)


Os dias que se seguiram foram passados a descomprimir. Estava cansado de tanto quilómetro feito e ali, rodeado de conforto e amigos tudo parecia tranquilo.
Naquela cidade, local sem especial interesse, uma capital atípica em África, relativamente limpa e organizada, recheada de bons restaurantes, bares e discotecas acabei por ter a pausa que tanto precisava.
A sensação ao tomar um duche quente, abrir o frigorífico e tirar uma cerveja fresca, escolher um entre dezenas de canais de televisão, vestir roupa lavada, comer entre amigos num bom restaurante acompanhado de uma garrafa de vinho era algo que há muito não sentia e ali aproveitei todos esses mimos.

Há medida que a viagem se vai aproximando do fim o desgaste vai sendo cada vez maior e ali apercebi-me do cansaço que trazia na bagagem. Os problemas vão sendo resolvidos ao longo da caminhada mas as cicatrizes ficam; vai crescendo uma fadiga e de vez em quando, em especial quando se pára um pouco, as coisas começam a vir à superfície.

As visitas à cidade, as idas aos locais de interesse no Gana teriam de esperar. Tinha chegado a altura de fazer uma pausa das visitas a museus, fortes, cascatas e aldeias; a máquina fotográfica ficou assim arrumadinha na mochila.
Aproveitei também para enviar desde Portugal algumas peças que precisava e prestar alguns cuidados à Miss na oficina da empresa MSF, aproveitando a gentileza do Ricardo e do chefe da oficina: o grande Marques.
Ali, trabalhei um pouco na mota, comi bacalhau na cantina, conheci o grupo de portugueses a trabalhar pela empresa em Acra e rapidamente, sem dar por isso os dias foram passando.

Chegado o fim-de-semana fomos todos até Kokrobit, uma pequena vila de pescadores a pouco mais de trinta quilómetros do centro de Acra.
Destino popular entre os expatriados a trabalhar no Gana, Kokrobit é o sítio com praia ideal para se passar um bom sábado à noite, ao som de boa música e muito cerveja.
A "equipa tuga" marcou assim presença na noite reggae e claro, no dia seguinte o almoçinho típico como tanto gostamos: um belo peixinho na grelha e uns "bichos" a acompanhar umas cervejas frescas. Nada falta na mesa de um grupo de portugueses: tanta falta me fazia isto...




Algumas das poucas fotografias que tirei na cidade. Pormenores como o mar picado numa praia no centro de Acra, a arquitectura colonial na parte antiga do centro e os coloridos panfletos com os filmes do momento.
 




Noite Reggae em Kokrobite




Praia principal em Kokrobite:
Music, Art, Culture (Beer and drugs)


Depois de uma "noite dura": a ressaca


Enquanto uns "morriam na praia", os resistentes continuavam a hidratar-se






Aquele almoçinho típico de domingo que só os tugas sabem como é.



Um grupo muito nice



No final uma bananinha para rematar aquela refeição
(e era hora de pensar no jantar)



Durante a semana era tempo de tratar da Miss com carinho
e sujar-me um pouco


Enquanto a Miss ficava na garagem tinha o prazer
de pegar na sua "prima" e rasgar a cidade

Não era uma oficina sul-africana mas ainda
assim a Miss foi aqui muito bem tratada


O Grande Marques entre as suas "pequenas" brasucas


Grande equipa 


 "Acra by night"
(Palavras para quê?!)







Tinham passado duas semanas e apesar de não ter vontade de me despedir, sabia que tinha chegado a hora, tinha de partir.
Ganhei coragem e marquei o dia do meu regresso à estrada.
Depois de "queimados os últimos cartuchos" e da despedida, num domingo de céu nublado decidi arrumar a trouxa e sair.

Rumei então para norte na estrada em direcção à cidade de Kumasi, a mais de duzentos quilómetros de distância de Acra.
Depois de umas horas de condução, numa estrada péssima, a Miss engasgou e parou. Logo no primeiro dia de viagem, aquilo não podia estar a acontecer.
Pouco depois, consegui fazer com que o motor voltasse a trabalhar e continuei por mais uns quilómetros, mas logo voltou a calar-se.
Bem, posso seguir para o Burkina Faso, arriscar e tentar resolver por lá o problema ou dou meia-volta e volto a Acra, pensei.
(apesar de frustrado com o sucedido sentia-me aliviado por estar perto de Acra, poder voltar para o conforto, para juntos dos amigos e tentar resolver ali o problema)

Vi na altura (é verdade, depois de tantos meses de estrada já vou conseguindo fazer alguns diagnósticos dos problemas da Miss e por vezes, pasmem-se, até resolvê-los) que só poderia ser do filtro de gasolina e substitui-o no local por um outro que trazia comigo, que apesar de não ser o adequado fez com que conseguisse chegar a Acra sem grandes problemas, horas depois.
Dito isso até parece fácil mas ter de tirar o filtro que está no interior do depósito de 41 litros, acabado de atestar, no meio da estrada, a várias horas de distância de Acra não era propriamente o que me apetecia ter de fazer.
Mas estava de novo na estrada, sem ninguém para dar uma ajuda e tinha de fazer o trabalho sozinho.
Acabou tudo por se resolver e liguei ao Ricardo.

- "Comé Ricardo, tudo bem?!"

- "Tudo, então tás onde?"

- "Olha, já tiraste o colchão do teu quarto onde tava a dormir?! Pois pá, não tires. Tou a voltar..."

Regressei assim para o confortável colchão, para juntos dos amigos em Acra, de volta para ao conforto da cidade.
Nesse mesmo dia pedi ao meu pai que me enviasse um filtro de gasolina por intermédio de um portador (que demoraria mais de uma semana a chegar ao Gana) e assim tive a desculpa (principalmente para mim próprio) de por lá ficar durante mais uns dias.
Tinha de seguir viagem com tudo no sítio, tudo em condições. Sair do Gana em direcção ao Burkina com problemas não podia ser. Preferia ficar ali, esperar o tempo que fosse necessário e seguir descansado.

Perfeito. O meu tempo em Acra não tinha acabado. Fiquei (e não estava nada aborrecido...)


Foto da despedida.
Falsa Partida (no final do dia estava de regresso a casa)


Naquele dia fui só dar um passeio. :)
 

A substituir o filtro em plena estrada


Já em Acra, com o filtro de gasolina provisório


Uma vez mais a fazer a trasfega de combustível
para garrafas de plástico


Tudo o que é bom acaba e o meu tempo em Acra acabou dez dias depois.
Voltei a despedir-me dos amigos e segui desta vez pela costa até Elmina, uma cidade desenvolvida pelos portugueses no século XV com o objectivo de ali controlarem e defenderem todo comércio na região.

Falando um pouco da história deste país, sabe-se que os primeiros contactos dos europeus com o Gana datam do ano de 1470, quando um grupo de portugueses desembarcou aqui, iniciando as negociações com o Rei de "Elmina".
Passado alguns anos, os portugueses construíram o Castelo de São Jorge da Mina e Elmina tornou-se uma importante feitoria.
No século seguinte os portugueses estenderam o seu domínio até Acra e controlaram, juntamente com os ingleses, holandeses e alemães várias partes da costa do Gana, naquele tempo chamada de "Costa do Ouro".

Porém o domínio português foi quebrado em 1642 pelos holandeses e no inicio do século XIX eram os ingleses que dominavam toda a Costa do Ouro, tornando-a numa colónia, afastando todos os concorrentes europeus e derrotando os reinos nativos (localizados no interior do país).

Em 1957, o Gana conquistou sua independência com o lema: "é melhor ser independente para governar sozinho, bem ou mal, do que ser governados pelos outros".















Elmina: uma linda cidade repleta de história
Depois de visita a Elmina segui para Norte onde fiquei alojado nas instalações da MSF, perto de Kumasi, antes de seguir para o Burkina Faso.
Encontrar portugueses nesta viagem tem sido incrível, pela forma calorosa e tão especial que sabemos receber.

Apesar dos problemas na Miss terem continuado (o que me fez por momentos pensar em regressar uma vez mais a Acra) segui caminho para norte rumo ao Burkina Faso.


Estaleiro da MSF perto de Kumasi
com mais uma equipa tuga

Os problemas com a Miss continuaram
mas segui em frente, rumo ao Burkina-Faso


O Gana como país não é nada de especial, comparado com algumas regiões em África por onde tenho passado. Não existe um cartão de visita especial para aqui, o país está cheio de voluntários adolescentes vindos de toda a parte do mundo cheio de ideia românticas de África. É o país ideal para entrar em África e começar a "viver África". Não é um país difícil e apenas longe da sua capital e das cidades turísticas da costa se começa a sentir de facto o continente.
 
Quanto a mim o que levo do Gana é sobretudo a amizade e a fantástica recepção que tive de um grupo de pessoas que, não me conhecendo, me adoptou rapidamente como um amigo e companheiro.
Poucas fotografias tirei, visitei zero museus, apenas um forte e poucas aldeias. Ali, passei dias deitado no sofá com os olhos postos na televisão vendo programas sem qualquer interesse. No entanto soube-me bem; era o que precisava. Senti-me em casa.
Segui para o Burkina com um novo espírito, uma alma nova.
 
 
Obrigado, Team Tuga!!!
Até breve, em Portugal.


6 comentários:

  1. Estás a ficar especialista em duas coisas:
    - Dança de entrada nas fronteiras;
    - Reprarar a miss que, parece-me, já vai acusando algum cansaço...

    Grande Abraço!!

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  2. boas,

    estou a pensar ir uns dias para Gana, e precisava de alguns contactos de "tugas" que vivam la para me orientar, se puderes enviar por email seria otimo!
    ederwils@gmail.com

    boa sorte nas tuas viagens.

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  3. Boa noite,
    Estamos para ir para Acra trabalhar para a MSF, gostaria de saber se tens contato de algum destes compatriotas que estão em Acra pois é para lá que "vamos". E gostaria de saber opiniões sobre a segurança em Acra e sobre as condições para criar uma criança com 5 meses.

    Se poderes responder helio.gaspar@gmail.com

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  4. Neste momento estou chegando em Hamile, noroeste de Gana, na fronteira com Burkina Fasso. Antes de despedir ficam aqui algumas anotações. A estrada de terra está em boas condições. Parece ser laterita pura, cascalho bom para rodovias. A paisagem nivelada desata sem fim pelos flancos. A terra não tem exploração plena, mas é ornada por árvores robustas, ainda que salpicadas tem verde forte e frondosas de sombras fartas na vastidão ensolarada. Elas, as árvores, altivas revelam um passado menos árido e anunciam ao viajante que um desertão se aproxima ao norte. Mulheres todas negras de roupas coloridas e recatadas, algumas como que a esmo vagam pela rodovia. Outras conduzem marsupialmente às costas suas criancinhas. Não sei porquê, mas elas me vendem uma imagem de pessoas felizes ainda que desgraçadas aos olhos do mundo engomado daquele tipo ambiente de Champs Elysees em Paris. A estrada está implantada, só falta pavimenta-la. Tiau e fiquem com Deus, já falei demais...:)

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  5. Imagens preconcebidas estragam a beleza da vida e do mundo. Por estes tempos tenho observado de perto com meus próprios olhos algumas coisas daquele longínquo Gana. Hamille, Navrongo, Aksombo, Tamale, Wa, Accra, roads, streets, life. Antes de finalizar já ficou em meu coração mulheres transportando marsurpialmente suas crianças às costas, longos vestidos coloridos, recatados, lindos e exuberantes, ainda que alguns machucados pela pobreza imoral (injusta). Para terminar vou como que transportar uma placa do trevo de acesso à cidade de WhiteHorse no Yukon no Canada para o coração de Gana: "larger than life, plus grand que nature"...:)

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  6. Estou de volta por aquelas bandas. Agora estou numa rodovia do Senegal entre Matam e Linguère a uns 120 km da Mauritânia. Neste trecho a estrada é boa, pavimento novo. A paisagem é magnífica, uma longa tangente rodoviária na solidão aberta e silenciosa da imensidão nivelada silto arenosa, parquíssima vegetação gramínea e altivas árvores esparsas frondosas e robustas, paraíso de raposas e animais notívagos. Até aí tudo bem, mas há um contraste entre a robustez da estrada e solitários flagelados que choram sozinhos à beira dela. O súbito, ilustre e fugaz visitante na sua pick-up suntuosa é um script secularista, não necessariamente que o visitante seja secularista. A verdade pode estar paradoxalmente na simplicidade de vida daqueles flagelados que de pés no chão perderam esta vida transitória, como a estrada, para ganhar outra definitiva que o mundo secularista subestima e debocha...:)

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