sexta-feira, 8 de julho de 2011

Gabão (e a procura da faísca perdida)

Já dentro do Gabão as estradas mantiveram-se em terra batida. Após uns quilómetros dentro do país parei no que pensei ser o posto fronteiriço, para ser carimbado o passaporte, e logo um militar veio falar comigo:

- "É aqui que me carimbam o passaporte?!" - perguntei.

- "Não, tem de seguir até N´Dendé, uns quarenta quilómetros à frente. Lá irão carimbar-lhe o passaporte". - disse-me.

- "E a estrada como está? Está assim como a do Congo?" - tentei saber, receoso.

Bem, o que tentei dizer foi isso, mas no meu francês as coisas saiam-me mais ou menos assim:

- "La route c´est come ça?" - dizia apontando para a estrada; "Congo c´est pas bon, anh?!"

Ainda assim ele percebia-me, dizendo no seu inglês esforçado:

- "There is Congo. Here good road. Dirty road but good. There (referindo-se aos seus vizinhos, o Congo) roads no good. Houses no good. Here houses good and road good. Welcome to Gabon!"

Assim foi a minha entrada no Gabão.

De facto, as estradas apesar de serem em terra batida com alguma gravilha em determinadas zonas (tornando a condução muito escorregadia e perigosa), melhoraram bastante e deixei de me preocupar em encontrar uma vala ou um grande buraco no meio da estrada.
Conduzia assim com mais confiança e aumentei o ritmo tendo chegado a N´Dendé no final dessa tarde.

Depois de ter tratado das formalidades (muito poucas) da entrada no país,  procurei a igreja da vila e pedi a uma das irmãs responsáveis que me deixasse montar acampamento no espaço relvado adjacente às instalações.
Sem demoras, montei a tenda, conversei um pouco com as simpáticas irmãs, comi o que tinha comprado num mercado local e apressei-me a deitar.
Tinha sido um dia muito cansativo e sabia que o seguinte iria ser intenso.

Melhores estradas mas os mesmos camiões
e poeira encontrei do lado do Gabão



Na pequena vila de N´Dendé acampei no relvado de uma igreja.
A "irmã" mostrou-se curiosa com as bandeiras dos países que já atravessei.


O Gabão, ex-colónia francesa, tornou-se independente em 1960 e é um dos países mais prósperos nesta região do continente com o maior IDH (índice de desenvolvimento humano) na África Subsariana.
Os primeiros europeus a chegarem ao actual Gabão foram comerciantes portugueses, no século XV, baptizando a região com esse nome. Gabão é um espécie de casaco, cujo formato lembrava o do estuário na foz do rio Komo, na região.
Como em muitos outros locais em África, também os portugueses fizeram da costa gabonesa um lucrativo entreposto de escravos.
Mais tarde, no século seguinte, vieram os comerciantes holandeses, britânicos e franceses.
A França assumiu o estatuto de "protectora" do território após assinar um tratado com os chefes tribais locais em 1839 e quando, em 1849, os franceses capturaram um navio de escravos, libertando-o, foram os próprios escravos a baptizarem o local onde ocorreu o episódio de Libreville (cidade livre, em francês).

A França ocupou formalmente o Gabão em 1885 mas só começou efectivamente a administrá-lo em 1903 e no ano de 1910, o Gabão tornou-se um dos territórios da África Equatorial Francesa, uma federação que existiu até 1959.
Todos estes territórios tornaram-se independentes em 1960, dando origem aos países da República Centro-Africana, Chade, Congo-Brazzaville e Gabão.

 A enorme riqueza do Gabão é devida ao seu muito valioso subsolo e não só: magnésio, diamante, petróleo, gás natural, ferro, madeira, urânio com fartura e um  potencial inacreditável para o eco-turismo, com uma biodiversidade de plantas e animais única, florestas tropicais, praias de areia branca, savanas, rios, lagoas, montanhas, etc. Este parece ser um país abençoado.

Apesar de todas as receitas que advém destes recursos servirem para modernizar o país e fortalecer a economia gabonesa, para a maioria da população esses benefícios parecem ser bastante moderados e pelo que vi, fora da capital, o seu modo de vida continua muito parecido com o dos restantes países na região.
Contudo, na sua capital, os edifícios governamentais são de uma opulência como nunca vi em nenhum país africano.
Para se ter noção de valores, a construção do gigantesco palácio presidencial, na marginal de Libreville, ultrapassou em muito os 300 milhões de dólares, como é do conhecimento público.
À semelhança do que acontece em Angola um só partido detém a força e  poder total daquele país, dominando-o por completo.

Desde a sua independência da França em 1960, o Gabão foi governado por apenas três presidentes.
O primeiro presidente do país foi Leon M'Bá, em 1961 e quando este morreu, sete anos depois, foi substituído por Omar Bongo, que governou até sua morte, em 2009, ostentando o recorde de governante há mais tempo no poder num país africano.
Como na habitual novela que é a política africana (ou será a política mundial??!), Ali Bongo Ondimba, filho de Omar Bongo, ministro dos negócios estrangeiros do governo do seu país, sucedeu-lhe e continua até hoje no poder.

 
Depois da noite passada em N´Dendé, bem cedo comecei a viagem para norte rumo a Libreville. Não sabia se iria conseguir alcançar a capital nesse dia pois desconhecia o estado da estrada e os mais de quinhentos quilómetros que separam as duas cidades pareciam-me um longo caminho a percorrer. Já há muito que não fazia tantos quilómetros num só dia.

Mas África tem destas coisas: em certas regiões pode levar-se vários dias a fazer apenas 50 quilómetros e um pouco mais à frente, de uma só assentada, fazerem-se 900 (como o fiz em Moçambique).

Nesse dia a condução foi cansativa mas agradável; apetecia-me conduzir e a Miss estava a portar-se bem.
A estrada até Libreville tem de tudo: excelente asfalto, terra batida, alcatrão esburacado e lombas. Tudo para todos os gostos.


Diferentes condições na estrada para Libreville.
Da terra batida passava para asfalto novo onde punha a Miss a rolar
  muito depressa para padrões africanos.



Pude até, na fabulosa estrada de montanha,
gastar um pouco da parte lateral dos pneus
No decorrer daquele dia estava feliz por ter "optado" por pneus de estrada e poder assim aproveitar as estradas de montanha e o seu novo asfalto, para queimar um bocadinho de pneu.
 
Em certas alturas penso, enquanto conduzo (dá para pensar muito quando se passam os dias de rabo sentado numa mota, sem grande coisa para fazer senão isso mesmo...:) ), como seria bom ter um carro de apoio tipo "Long Way Down" ao qual pudesse socorrer.
 
Seria qualquer coisa tipo:
"Epá, troca-me aí os pneus da Miss que agora vamos apanhar uns milhares de quilómetros de asfalto."; "Epá, faz-me aí um cafézinho quente para beber depois da minha refeição empacotada que a Touratech me ofereceu." ou "Epá, troca-me aí o pneu que furou e limpa-me o filtro de ar e muda o disco de embraiagem que queimou e o hall sensor que pifou".
 
Tudo isso daria certamente imenso jeito, pouparia tempo e agradar-me-ia o facto de puder rolar com a mota levezinha.
Para a próxima talvez me meta numa coisa dessas. Hummm, talvez não.

Bem, mesmo sem ter a comidinha em pacotinhos hermeticamente fechados "by Touratech" (que acredito darem jeito em muitas situações) almocei umas sandes de carninha numa barraca local em Lambaréné.
E que bom terem sido os franceses a colonizarem este país. Pelo menos pela comida, não me posso queixar. O pão, saborosos cacetes que até nem precisam de nada para serem deliciosos é óptimo e toda a restante comida que me lembro é saborosa.
Aí está uma das coisas boas desta parte de África: comida.
Não vão para o Quénia, Tanzânia, etc esperando comer bem.
Aqui, nesta costa, especialmente nos países ex-colónias francesas engorda-se, digo-vos eu.

E assim cheguei a Libreville, cansado mas bem alimentado e com muita força.
Fiquei instalado numa pensão perto do aeroporto internacional, num pequeno mas agradável quarto, a um metro da areia da praia.

Chegando a Libreville. Palmeiras e temperatura que não descia dos 27ºC



O fato da mota depois de ter levado com Angola, RDC e Congo.
Finalmente uma caminha...




Mesmo no cacimbo sabe sempre bem um mergulho.
Até nem sou esquisito...




Monumento na cidade de Libreville e vista para o que é,
lá muitoooo ao longe, São-Tomé-e-Princípe.


Apesar de na altura ter achado aquele um quarto caro estava muito cansado e preferi não procurar mais.
Qualquer coisa como 30 USD era o custo diário, mas pensando bem, até  talvez fosse razoável sendo aquela uma cidade cara (a fazer lembrar Luanda). Também só contava ficar por ali o tempo necessário para tirar o visto para os Camarões e depois arrancaria para o interior para conhecer o verdadeiro país.
Mas como já aqui o disse, é complicado planear as coisas em África e pouca coisa acontece da maneira como esperamos.
Depois de ter ido à embaixada dos Camarões (onde me deram o visto depois de umas horas) resolvi dar um mimo à Miss Africa, limpando-lhe o filtro de ar, dando-lhe uma boa lavagem, tirando-lhe toda a poeira acumulada desde Angola. Até a matrícula foi mudada sendo agora uma "miss portuguesa".

Mas pelos vistos a Miss não gostou daquele banho e algumas horas depois, quando ia a rolar normalmente, parou.
No principio achei que fosse apenas um mau contacto eléctrico e depois de levantar um pouco o depósito voltou a pegar e pude passear mais umas horas a conhecer a cidade.
Já com o visto para os Camarões, a Miss lavadinha, tanque de combustível cheio, ida à Internet feita e ao muito bom centro-cultural francês (também aí os francês dão uma lição a todos os outros no que toca à representação e investimento cultural nas suas ex-colónias) e as compras feitas para sair da cidade no dia seguinte, quando ia a caminho do hotel, mais uma quebra.
Uma vez mais foi abaixo: as luzes estavam ligadas, tinha combustível; tudo parecia normal; o motor rodava mas nada de ignição.
Ainda estava a alguns quilómetros do hotel, na avenida da marginal. Sem sucesso tentei reanimar a bicha sem sucesso e não tive alternativa senão empurrar.
Pode parecer fácil empurrar uma mota...só para quem não conhece a pesadona Miss. De depósito cheio (41 litros) e com as malas laterais não deve ser muito mais difícil empurrar um carro.
E até me portei bem fazendo uns quilómetros a arrastar a mota, aproveitando o facto de estar na marginal, uma estrada de asfalto plano com algum espaço na berma.
Contudo um pouco depois tudo se complicou pois teria de atravessar um viaduto com alguma inclinação. Era escuro, não conhecia ninguém na cidade e estava sozinho. O que podia fazer?!
 
Bem, geralmente tenho sorte em alturas como esta e pouco depois apareceu um casal que fazia exercício no local, oferecendo a sua ajuda.
Acontece que o senhor tinha uma mota um pouco mais à frente (uma potente Yamaha 1000) e ofereceu-se para ajudar.
Decidimos então rebocar a Miss até ao hotel uma vez que eu tinha uma corda numa das malas para situações de emergência.
 
Foi uma operação arriscada, devo dizer.
Em primeiro lugar era já noite e aquela avenida é muito movimentada; depois tivemos de seguir pela berma em contra-mão e obviamente porque rebocar uma mota é sempre uma coisa bastante perigosa (da última vez que o fiz, em Luanda há uns anos atrás, a certa altura, a uns 80km/h, assustei-me e travei tendo caído e tendo a Miss sido arrastada no asfalto uns bons 30 metros).
 
Felizmente, desta vez tudo correu bem. Chegámos bem ao hotel e apenas o facto de estar com a Miss avariada me deixava preocupado.
Antes de ir embora o senhor que me ajudou falou com o seu mecânico para estar no dia seguinte bem cedo no hotel para ajudar no que fosse preciso.
Tudo isto agora me parece simples mas acreditem que a comunicação foi sempre muito difícil pois os gaboneses simplesmente não entendem inglês.
Não era o caso do senhor que me ajudou mas neste aspecto a maioria dos gaboneses herdaram alguma da arrogância francesa. Ouvi várias vezes dizer:  "mas porque hei de eu falar inglês se todos falam francês?!" Afinal, alguém disse que os Gaboneses se comportam mais como os franceses do que os próprios franceses.     

O que é certo é que no dia seguinte estava lá o mecânico e juntos fomos tentando ver o que poderia ser a causa da avaria.
Não é tarefa fácil, sem grande experiência, ferramentas ou aparelhos de diagnóstico detectar uma avaria deste tipo.
Começamos por ver que não havia faísca nas velas e aí estava a causa do problema da mota, apesar do motor rodar, não tinha arranque.
O facto de nem sequer termos um voltímetro tornou as coisas ainda mais difíceis e demoradas.
Talvez fosse um cabo, talvez fosse a bateria, talvez fosse a centralina, os injectores ou qualquer outra de muitas coisas possíveis.
Liguei para os meus amigos Rui Baltazar e Pedro Caleja na tentativa de me ajudarem a perceber a origem do problema (nestas situações só o facto de termos alguém do outro lado a falar a nossa língua ajuda sempre nem que seja a alma). Falei também com um técnico da BMW em Portugal: podiam ser várias coisas; tinha de começar a eliminar possíveis causas até chegar ao problema.

E assim, com a minha limitada experiência fui mexendo na máquina: mudei a bateria, que tinha um dos pólos partido, mudei as velas (já "cansadas" desde Luanda), verifiquei cabo por cabo (uma das coisas que toda esta experiência me deu foi o facto de me ter permitido conhecer melhor cada um dos cabos da mota. Logo que chegar a Portugal tentarei tornar toda a cablagem da Miss mais simples e organizada) mas nada.
Depois de uns dias de verificações, com muito trabalho, nada tinha mudado.
Simplesmente não havia faísca. E sem faísca não há explosão, não há movimento, não há mais viagem.

Porém, através desse mecânico consegui o contacto de um seu amigo que, apesar de não ser mecânico de profissão, conhece muito bem este mundo e tem várias BMW´s.
Não podia ter conhecido melhor pessoa para o trabalho.
Tal como o Congo, também o Gabão utiliza, para a sua polícia, BMW´s. Aqui, toda a polícia e guarda do presidente tem motos desta marca, existindo neste momento dois modelos em circulação: a BMW 650 Dakar e a 1200 RT.
Os modelos anteriores são vendidos ao desbarato e não é difícil dar-de-caras com uma R60, R80 ou até uma 1100 RT.
Este meu amigo comprou várias e fez a dele. A falta de mecânicos e peças tem de ser substituída pelo improviso e no seu caso, teve de aprender tudo sobre a mecânica da sua mota (uma GS800) desmontando-a por completo.
Aqui não há máquinas de diagnóstico, complicadas ferramentas e computadores. Assim, é necessário improviso e muito destreza, sendo pessoas como o Mati  que mantêm as BMW´s a circular neste país.

Depois de uma pesquisa mais atenta sobre os sintomas da Miss vi que tudo apontava para o mesmo: a avaria depois da lavagem, os anos da mota, a falta de substituição de muitas das peças de origem e o sintomas levavam a que fosse um problema no hall sensor, uma pequena placa metálica com dois sensores que está situada junto ao alternador e que "simplesmente" dá a informação à placa central da mota que posteriormente a passa até às velas de que o pistão está no sítio certo para darem a faísca.
Tudo, como disse atrás se resume a faísca. E se estes sensores não funcionarem, logicamente...não há "fire in the hole".
 
No dia seguinte já o meu amigo aparecia com a mochila carregada de peças: injectores, centralina, caixa de ignição, todas as peças que tinha armazenado ao longo do tempo.
Faltava apenas o que no meu caso era importante: um novo hall-sensor.






Uma semana à procura de faísca e por fim,
a retirar a possível causa do problema: sensor-hall


Para descobrir uma nova placa tivemos de deixar passar o fim-de-semana e ir logo na 2ªf, bem cedo, tirar uma de uma das motas desfeitas que existem em vários sítios da cidade.
Ao contrário do que pensei no inicio não é tarefa fácil pois as peças de maior procura são...todas as que costumam avariar, como é óbvio.
Logo assim é fácil encontrar grande parte do motor de uma BMW 1100 ou 1150, mas é difícil encontrar uma bomba de gasolina, um filtro de ar ou óleo, uns pneus ou um hall sensor.
Mesmo assim encontrei alguns. "Apenas" os cabos estava destruídos mas decidimos que iríamos tentar cortar os meus (visivelmente bons) e soldá-los numa dessa placas. Se a causa do meu problema fossem efectivamente dos sensores, então o problema estaria resolvido.
 
O processo de soldar os cabos na placa "nova" foi digna de um filme de suspense.
Os dois, o Mati e eu, sentados no pequeno quarto onde estava alojado, com os corações aos pulos visto tratar-se de um trabalho delicado e com medo de não conseguirmos pôr aquilo a funcionar.
Ainda mais, o material que utilizávamos não era o melhor e o apropriado: o equipamento não era para soldar material tão fino e delicado e as mãos tremiam muito...
A certa altura, interrompi a operação e disse ao Mati que pagava o que fosse preciso mas que era preciso fazer o trabalho bem feito e com as ferramentas adequadas (não imaginam o nível de improviso a que se chega num país africano). 
Ele disse-me que conhecia um sítio na cidade para fazer aquele trabalho e umas horas depois voltava com a placa soldada, pronta para ser aplicada na Miss. Pouco depois estávamos pronto para a testar.
Tentem imaginar a minha ansiedade, o meu coração a bater no peito, uma semana depois de ter chegado à cidade, e testando ali, naquele momento, a mota.
Assim, com as velas de fora, encostadas à cabeça dos cilindros, para ver se havia faísca, ensaiámos e...nada. Nada de faísca.

- "Não pode ser." - diz o Mati.

- "E agora?" - digo-lhe desesperançado.

- "O problema não pode ser este. Eu já te disse. Não pode ser. Que cabo é este?" - pergunta o Mati.

- "Isso é o alarme, como já te disse. Mas o alarme está a funcionar. Não pode ser disto"- disse eu. O cabo de que falávamos é um cabo que foi ligado à posteriori ao cabo que liga na caixa de ignição e que segue para as velas.

- "Eu vou cortar o cabo. Se não for disso eu volto a ligá-lo novamente" - disse-me.

Eu estava por tudo nessa altura e acedi.

E não é que depois de ele ter cortado aquele cabo e ensaiado uma vez mais vimos finalmente a faisca. Uma clara e bonita faisca sair de cada uma das velas.

Pelo que posso dizer agora penso que o problema estava de facto no hall sensor. Mas enquanto testávamos tudo para fazer o diagnóstico, verificando cabos e relês, um cabo que liga ao relê do alarme desligou-se e deste modo, mesmo com o hall sensor a funcionar o alarme cortou a ignição.

O problema estava assim resolvido e estávamos prontos para continuar a viagem.
Na manhã seguinte ainda estive com o Mati, o meu amigo mecânico, sincronizámos os cabos do acelerador e acertámos a posição do hall sensor.
 
Depois das despedidas sai finalmente de Libreville para ver um pouco do Gabão que queria.
Devo dizer que já há muitos meses que a Miss não soava tão equilibrada e é incrivel a diferença que um pouco de afinação pode fazer no comportamento da mota.


Finalmente a faísca e uma fotografia de comemoração


Na manhã seguinte, depois de afinarmos a bicha o Mat pediu-me,
com alguma vergonha, para experimentar aquela BMW.
Foi sem dúvida um dos maiores apaixonados da marca que conheci em África.



Um último mergulho na despedida do mar do Gabão


Para seguir para os Camarões desde Libreville, a rota mais fácil é descer primeiro umas centenas de quilómetros para sul e depois, já no interior, apanhar a estrada em boas condições (a maior parte asfaltada) em direcção a norte.

Atravessei deste modo, uma vez mais para o hemisfério sul, antes de rumar definitivamente para o norte.
A partir dali estarei sempre, até ao final da viagem, a rodar no hemisfério norte, o que marca a minha despedida do lado sul, onde passei tão bons momentos.
O percurso para norte foi tranquilo, atravessando a floresta tropical. Sem apanhar chuva, mas com um grau de humidade bastante grande fiquei feliz por estar de mota. Finalmente tudo estava bem e rolava sem problemas, entusiasmado pelas lindas estradas do Gabão mesmo apesar de não encontrar muitas aldeias pelo caminho. Aquele era um momento feliz.

No final da tarde tinha já feito muitos quilómetros e decidi repousar. Uma vez mais, numa pequena vila, pedi abrigo numa igreja. Desta vez ofereceram-me um quarto nas instalações e assim pude recuperar forças da longa tirada do dia.

No dia seguinte, ainda cheio de "fome de conduzir" sai de madrugada e ao início da tarde estava já a entrar nos Camarões.


Da minha estadia no Gabão vou-me sempre recordar do problema que tive com a mota, do diagnóstico e por fim tudo o que tive de passar para arranjar a peça. Apesar de frustrante e trabalhoso, o facto de ali ter estado nessa situação fez-me ter conhecido pessoas e partes da cidade que de outros modos seria difícil. Senti-me, em alguns momentos como um local, sempre de um lado para o outro em táxis colectivos, a ter de me desenrascar no meu pobre francês, procurando locais para obter a tão desejada peça.
Lembrarei também deste país, a sua floresta, a praia de Libreville (por onde tanto andei com música nos ouvidos para me sentir mais acompanhado) e claro, das baguetes com carne deliciosas e dos croissant com chocolate que comi enquanto esperava a desejada faísca para continuar o meu Caminho. 


Atravessando o Equador. Agora ainda mais perto de casa...



Bonitas as estradas no Gabão, atravessando a floresta tropical


O almoço: sempre nos mercados locais



Estadia num quarto que me foi oferecido pela igreja
numa das vilas a caminho dos Camarões


A chegar aos Camarões

1 comentário:

  1. Como dizia o outro "tudo está bem quando acaba bem", pensava que seria uma viagem complicada esta de "subir" Africa, isto em termos de segurança mas até agora (e já bati na madeira 3 vezes lololol) tudo corre bem, parabéns. Espero então, esperamos todos pela proxima missiva. Um Abraço de PORTUGAL
    Rui Forjaz

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