África do meu Coração: Dia 42-49: Cidade do cabo

Há coisas difíceis de explicar.Há quem chame destino, outros "mão de Deus", outros sorte ou qualquer outra coisa que explique a

facto de uma coisa acontecer de uma determinada maneira e não de outra.
Mas vamos aos factos. Cheguei à África do Sul e dormi a primeira noite em Clanwilliams, como já aqui o disse. Segui no dia seguinte em direcção à Cidade do Cabo, não pela estrada principal, mas por outra secundária que passa em Ceres e segue para Oeste, em direcção ao Cabo. Estas sugestões foram-me dadas por um casal, donos de uma oficina da Yamaha em Swokpmund, na Namíbia. Geralmente, sigo os conselhos que me parecem bons e, assim, resolvi seguir este. Perto de Ceres, acabei por conhecer aqueles 3 irmãos com quem bebi as minhas primeiras cervejas na África do Sul, prometendo que iria visitar um deles a uma quinta vinículas em Stellenbosch, nos arredores do Cabo. Acabei por perder o papel com esse contacto pouco tempo depois.

Um dos manos. Acabei por perder o contacto dele...

Chegado à cidade do Cabo fui até à zona de Gardens, conforme sugestão que tinha daqueles motards sul-africanos que conheci em Ai Ais, perto do River Fish Canyon, Namíbia, e procurei um restaurante para almoçar. Era sábado, a tarde já ia a meio e não havia muita gente naquela zona da cidade. Escolhi o restaurante ao acaso e conheci de imediato o Cleon e a Kate que também almoçavam. Ficaram surpreendidos por verem ali um rapaz vindo de Angola e com a vontade de chegar a Portugal. Convidaram-me a sentar-me com eles.
Cleon e Kate são ambos Sul-africanos, nascidos na cidade do Cabo e têm um restaurante grego numa das principais avenidas do Cabo, entre outros negócios.Conversámos, trocámos telefones e fiquei de lhes ligar assim que tivesse um cartão telefónico.

O facto de ter vindo por onde vim, ter escolhido almoçar na cidade do Cabo, já no fim da tarde, escolher aquele restaurante entre centenas que existem na cidade, permitiu que o destino, ou a "mão-de-deus" ou a sorte tivesse um papel importante em fazer com que a minha estadia na cidade se tenha tornado especial.

Mas adiante.

A Cidade do Cabo é das mais fantásticas cidades do Mundo. Tem praias incríveis e com a beleza única da Table Mountain sempre presente, uma vida cosmopolita intensa, centenas de pequenos cafés, boa comida e bom ambiente.

É extraordinária a beleza desta cidade vista do topo da Table Mountain

Aqui existe sempre alguma coisa para fazer. Sendo uma cidade virada para actividades ao ar livre, há sempre alguém a passear o cão ao fim do dia na Beach Road, apanhar sol na praia ou em qualquer deliciosa esplanada em Camps Bay, surfar numa das praias nos arredores, etc. Seja qual for o desporto a Cidade do Cabo tem. Se não se gostar de actividade física existem espectáculos e muita actividade cultural a decorrer por toda a cidade.

"Só uma" das várias praias na Cidade do Cabo

Arte de rua na Beach Road

(...) Heartbroken the Litte Girl realizes her loss.
A dream has come so close and an invitation to fly together was made so freely,
all now seems lost (...)

http://www.walkingtheroad.com/

Alojei-me num hostel na zona de Gardens e deixei-me estar.
O dia seguinte passei-o a andar de mota. Segui para Sul numa estrada de montanha, junto ao mar, das mais bonitas que conduzi na minha vida.

Passado algum tempo o vento começou a soprar mais forte, o frio a apertar e dei por mim a fazer um grande esforço para não ser arrastado para fora da estrada.
Tinha mesmo de ser deste jeito, com esforço. A tremer de frio cheguei finalmente ao Cabo da Boa Esperança. Estava lá, finalmente. Para muitos, nos dias de hoje, marca o final de uma grande viagem Trans-África. Para mim marcou mais uma etapa.
Senti-o de forma especial e com um orgulho quase irracional por ser português, por termos sido nós, noutros tempos, a o termos "dobrado". Essa conquista, como outras, ninguém nos tira. E a mim ninguém me tira ter chegado até aqui.

Estou mesmo AQUI

Registo para colar no frigorífico. :)

Estava feliz. Esperei alguns minutos, com um vento muito forte (a mota no descanso central ameaçou várias vezes tombar para o lado) que uns koreanos acabassem de tirar as fotos da praxe. Chegou a minha vez e não é que são uns angolanos (os primeiros e únicos que vi por estas bandas) a tirarem-me a fotografia para mais tarde recordar?! (quem sabe no frigorífico da D. Maria de Deus).
A viagem de regresso foi mais tranquila. O sentimento era o de dever cumprido.

Passei o resto dos meus dias no Cabo entre idas à oficina da BMW (onde mimaram a AFRICA da melhor maneira, ganhado até uns sapatos novos) e jantares com amigos. Também deu tempo para subir à Table Mountain, ver a cidade calmamente, fazer compras, cortar o cabelo, lavar a roupa, pequenos luxos a que me dei.

Relaxando da melhor maneira na Cidade do Cabo

Cenário especial este, não?!

O Cleon e a Kate apresentaram-me a outro casal amigo muito simpático: a Niki e o Sebastian.Tivemos um jantar muito agradável na casa deles em Camps Bay. É uma daquelas casas de sonho, entre a Table Montain e o Atlântico. O Sebastian apanha uma ondas e teve há pouco tempo na Ericeira a surfar. Lembrei-me dos amigos que tenho em Portugal (quase todos bicudos) e prometi que da próxima vez terá a companhia deles.

Cleon e Kate. Bons amigos em Cape Town

Niki e Sebastian formam um casal muito bonito

Ambas as casas estão cheias de cães. Todos com a sua história...

Thanks for the nice moments you guys gave me. I´ll be waiting for all of you in Lisboa. Xau

Havia já algum tempo que queria ter alguma coisa relacionado com África na minha mota e vi várias vezes um autocolante do continente africano colado em carros. Queria de qualquer das maneiras conseguir um para mim mas nunca tive a oportunidade de saber onde o podia comprar.
Quis o destino, uma vez mais, de ser a Niki a fazer os ditos autocolantes e a comercializá-los. Além do continente africano, que tenho colado em ambos dos lados do depósito, ganhei ainda outros três muito especiais.

AFRICA pronta para rolar, uma vez mais

Acabado o meu tempo na Cidade do Cabo segui para Este. Vou ter saudades da Cidade do Cabo.

Vou ter saudades desta cidade

Segui para Stellenbosch, nos arredores, pequena cidade universitária conhecida pela sua arquitectura colonial, vida social e...quintas vinícolas. São tantas (e tão boas) que fica difícil escolher uma. Os meu amigos no Cabo facilitaram-me a escolha e deram-me um contacto de um amigo, o Miles, outro "bicudo" (surfista) que basicamente é o responsável pela produção de tudo o que se faz nessa quinta. O dono é um multi-milionário sul-africano que decidiu produzir vinhos de gama média-alta e que criou toda uma estrutura para o efeito. Levei as coordenadas da quinta em GPS. Como disse há centenas de quintas destas espalhadas por Stellenbosch e arredores. Com o GPS não foi difícil dar com esta, a alguns quilómetros da cidade.
A primeira pessoa que vi no portão foi um dos irmãos a quem eu prometi uma visita, uns dias atrás, a centenas de quilómetros de distância.
- "Ouvi o barulho da tua mota à distância e quis vir-te receber no portão. Não acredito que vieste mesmo!!!", disse-me ele num bom inglês.
Meio envergonhado, admiti que foi uma sorte estarmos juntos mais uma vez. Ainda assim foi muito bom, para ambos. A foto prometida seguiu mesmo por intermédio do Miles, que se mostrou também impressionado com a coincidência. Destino, "mão-de-Deus", coincidência?!

A visita à zona de produção de vinhos e aguardente foi bastante interessante e tive a oportunidade de provar directamente das pipas os melhores vinhos e aguardente que ali são produzidos. Fantástico.
No final o Miles ainda me ofereceu uma garrafa da sua própria produção. Um tinto de 2006 com o nome de Max, um tributo ao filho de nome Max; muito interessante.

Bebi-o algumas horas depois no Cabo Agulhas, com tudo o que tinha direito, celebrando assim outra conquista: estar no ponto mais a Sul do continente Africano.