Há uns anos fiz esta viagem rumo à Equimina, aldeia piscatória perdida a uns largos km´s de Benguela. Lembro-me que achei uma verdadeira aventura fazer todo aquele trajecto na altura. Lembro-me das pedras, na aridez do terreno, das fortes subidas e descidas, da aldeia, enfiada num vale, apertada pelas montanhas de encontro ao mar.
Desta vez passo a Equimina, deixo o cota, professor em Benguela, seguir o seu caminho com a esposa rumo à sua aldeia. Conversamos um pouco na estrada. Onde vai, donde vem, como consegue fazer tantos kms com aquela mota chinesa tão carregada.
Guarda a buzina da sua "DELOP" no bolso, presa por fios, depois de tantos saltos e entre palavras de Umbundo e do "seu" português, entre sorrisos e adeus se despede até sempre.
Seguem-se estradas a perder de vista, por entre montanhas, perto do mar. Passamos por rios secos, rectas intermináveis e nada... nem um carro, nem uma pessoa, nada. Parece que estamos longe de tudo, parece que estamos perdidos de toda a gente.
Naquela altura, perto das 4 da tarde, começo a olhar para o GPS e a ficar preocupado. As saídas para o interior não aparecem na estrada (queria ir para Sul por aquela "estrada" e subir para Norte por outra que ficaria no interior), o combustível já não está famoso, a hora adiantada não permite grandes riscos. Se uma coisa não tem falhado por aqui é que às 5:45H o Sol cai e nestas alturas, confesso, prefiro estar sentado, calmo e sereno a apreciar tamanha beleza em vez de o fazer "perdido", frio e sem destino.
Quis o Destino (com uma grande ajuda da minha despreocupação, falta de consciência e experiência) que o pneu da frente ficasse completamente...sem ar.
Continuámos a rumar ao Sul (regressar a Norte não era opção) com a esperança de alcançarmos alguma localidade em que nos pudessemos abrigar.
Não fosse o facto de termos um pneu na jante, a 200 km de Benguela, em caminhos de pedras, sem ver ninguém por perto (naquela viagem vimos apenas meia dúzia de pastores), quase a entrar na reserva de combustível da mota, sem roupa quente e adequada para tal viagem, sem ferramentas e sem qualquer ideia da distância à próxima cidade, teria sido um passeio mágico. Porém, não deixou de o ser.
O Sol começou a esconder-se, por detrás das enormes montanhas, a paisagem começou a encher-se de cores mornas. De quando em quando viam-se alguns animais e nós ali, a fazermos parte de tudo aquilo, em sintonia com aquela paisagem, sem saber o que nos esperaria.
Sem que nos tivessemos apercebido atravessamos a província de Benguela e entramos no Namibe.
Por fim às 6:30H, já escuro, chegamos a Lucira. Lucira é uma "cidade" junto ao mar. Vive da pesca e...pouco mais. Faz parte da província do Namibe. Tem uma rua, um telefone, um posto de combustível, uma discoteca, um posto médico, uma pensão e uma recauchutagem.
O posto de combustível fecha às 6h... Por outro lado a discoteca abre às 7H.
Costumo contar com a bondade das pessoas. Desta vez não foi diferente. O Buena arranjou-me o pneu (a câmera de ar vendeu-me um polícia que tinha uma suplente para usar na sua "chinesa").
O Isac encheu-me o depósito de gasolina.
No meio de tanta ajuda ainda houve ainda sorte para a administradora emprestar uma das casas recém-construídas aos "turistas vindos do Lobito".
O única maca disse a Srª administradora era mesmo a luz. A casa não tinha luz... Para quê precisariamos de luz, pensei na altura.
Depois de uma noite passada à luz de velas e antes de todos acordarem (pelo menos antes de pôr a mota a trabalhar) fizemo-nos de novo à estrada.
Afinal era 2ºF e como diz um amigo meu: "nós estamos aqui é para trabalhar!!!".
Apesar do frio, foi sem dúvida um passeio muito especial.
ResponderEliminarContigo descobri e partilhei a Angola dos sorrisos, da entreajuda e da boa hospitalidade.
Muito obrigada Lucira!
Recordei a alegria imensa e a felicidade simples que se escondem nas paisagens a perder de vista e do vento quando nos toca nos recantos mais profundos do nosso ser.
A magia nasceu da partilha silenciosa. Tu és magia, Eu sou magia, Nós somos magia… Ela rodeou-nos a cada instante, Ela viveu sempre dentro de nós.
Matei as saudades, que nem sabia que tinha, dessa moto robusta e nervosa. É tão estranho tê-la aqui em Angola, mas simultaneamente tão reconfortante! Com ela chegou um pedaço do nosso Portugal e das Gentes e dos bichos queridos que deixámos por lá.
Anseio por partilhar novos pedaços de Vidas Contigo e com Ela… veremos com o que é que o futuro nos presenteará. Mas para a próxima (se houver uma próxima), por favor, eu só peço água, agasalhos, um kit de ferramentas, outro de 1ºs socorros e um telefone via satélite. Não é pedir muito, pois não?! ;)
RSF
Bela aventura...belas fotos e não menos belas palavras da RSF...mas cá longe o coração bate mais apressadamente enquanto o telélé não toca a dizer TUDO BEM.
ResponderEliminarSaudades da Mi e do TB
O mundo é um livro...e quem não viaja só lê uma página.
ResponderEliminarBeijos da MI
chorei ao ler .eu sou da lucira e pra me nao a melhor lugar do nunca.tenho saudades do meu povo
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