Entrada no Burundi
"BIENVENUE AU BURUNDI", pode ler-se na placa ao entrar no país vindo de Butare no Ruanda. Imagino ali dezenas de milhares de pessoas, refugiados da guerra civil no Ruanda há uns anos atrás.
Hoje em dia já não há refugiados ruandeses no local e felizmente, apesar da instabilidade em que o Burundi continua mergulhado, ali, na sua principal porta de saída para o Ruanda, tudo parece calmo.
Ao entrar no Burundi deparei-me com a mesma facilidade que encontrei em todas as fronteiras por onde tenho passado: visto comprado, passaporte carimbado.
- "Qual o destino?", perguntou-me o oficial da alfândega.
- "Bujumbura.", respondi.
- "E qual o nome do hotel onde vai ficar?", interrogou-me.
- "Ainda não sei, mas o que me aconselha?"
- "Não se preocupe, tenho alguém conhecido na cidade e vou ligar para lhe dar uma ajuda assim que chegar. Acredite que vai gostar de Bujumbura. Mulheres bonitas, muitos bares onde beber cerveja e algumas discotecas para se divertir. E hoje vai estar bom.", acrescentou .
Era sábado e queria chegar rápido a Bujumbura. Estava calor e queria tirar o pesado fato da mota, tomar um banho e beber uma cerveja fresca.
Não demorei muito. Pouco mais de uma hora de condução agradável pelas excelentes estradas de alcatrão, onde aproveitei para "queimar" um pouco a parte lateral dos meus pneus, e estava a chegar ao centro da cidade.
As primeiras impressões com que fiquei do Burundi foram a condição impecável da estrada que chega do Ruanda, cortando montanhas verdejantes e atravessando centenas de aldeias de beira de estrada onde todos, de olhos esbugalhados me acenavam, a serpenteante descida até à capital Bujumbura, cidade pequena junto do grande e bonito Lago Tanganyika com as grandiosas montanhas da RDC reflectidas na sua superfície e os ciclistas loucos descendo as íngremes estradas a velocidades inacreditáveis (velocidades a que eu não me atrevia de mota). Nas subidas esses "kamikazes" agarravam-se aos camiões que iam passando e assim eram rebocados aos grupos tornando tudo ainda mais perigoso.
Hoje em dia já não há refugiados ruandeses no local e felizmente, apesar da instabilidade em que o Burundi continua mergulhado, ali, na sua principal porta de saída para o Ruanda, tudo parece calmo.
Ao entrar no Burundi deparei-me com a mesma facilidade que encontrei em todas as fronteiras por onde tenho passado: visto comprado, passaporte carimbado.
- "Qual o destino?", perguntou-me o oficial da alfândega.
- "Bujumbura.", respondi.
- "E qual o nome do hotel onde vai ficar?", interrogou-me.
- "Ainda não sei, mas o que me aconselha?"
- "Não se preocupe, tenho alguém conhecido na cidade e vou ligar para lhe dar uma ajuda assim que chegar. Acredite que vai gostar de Bujumbura. Mulheres bonitas, muitos bares onde beber cerveja e algumas discotecas para se divertir. E hoje vai estar bom.", acrescentou .
Era sábado e queria chegar rápido a Bujumbura. Estava calor e queria tirar o pesado fato da mota, tomar um banho e beber uma cerveja fresca.
Não demorei muito. Pouco mais de uma hora de condução agradável pelas excelentes estradas de alcatrão, onde aproveitei para "queimar" um pouco a parte lateral dos meus pneus, e estava a chegar ao centro da cidade.
As primeiras impressões com que fiquei do Burundi foram a condição impecável da estrada que chega do Ruanda, cortando montanhas verdejantes e atravessando centenas de aldeias de beira de estrada onde todos, de olhos esbugalhados me acenavam, a serpenteante descida até à capital Bujumbura, cidade pequena junto do grande e bonito Lago Tanganyika com as grandiosas montanhas da RDC reflectidas na sua superfície e os ciclistas loucos descendo as íngremes estradas a velocidades inacreditáveis (velocidades a que eu não me atrevia de mota). Nas subidas esses "kamikazes" agarravam-se aos camiões que iam passando e assim eram rebocados aos grupos tornando tudo ainda mais perigoso.
As fabulosas paisagens do Burundi
Ciclistas no Burundi: uma espécie à parte
Bujumbura, capital do país (fotografia de um casamento numa das rotundas da cidade: TIA)
Lago Tanganyika com as montanhas da RDC bem perto
Chegado à capital demorei muito a encontrar hotel onde ficar. Não ter GPS, mapa nem qualquer sugestão (não foi possível fazer o contacto que me deram na fronteira pois o meu telemóvel ficou sem carga) fez-me andar algum tempo à procura e só no final da tarde encontrei um quarto, no centro da cidade, sossegado e económico, onde fiquei e tomei o tão desejado duche antes de beber a tão desejada cerveja.
Seguiu-se o jantar e depois... descanso. Nem bares, nem discotecas, nem tão pouco mulheres bonitas. E não é porque não havia; estava cansado e fui para o quarto onde "aterrei" na cama de lençóis lavados.
Tinha passado a minha estadia no Ruanda a dormir dentro da minha tenda e uma cama era uma recordação distante.
No dia seguinte fui tomar o pequeno-almoço a um restaurante nas margens do lago, um dos locais mais populares da cidade. Com o seu ambiente "cool" este restaurante/bar lembrou-me um ou outro sítio na Ilha de Luanda. Acabei por lá passar o dia.
Bujumbura é uma cidade tranquila. O centro da cidade é em estilo colonial, com avenidas largas e um grande mercado.
Os estrangeiros que se vêem nas ruas trabalham sobretudo para ONG´s e agências internacionais. Não encontrei um único turista durante a minha estadia no Burundi.
Sempre considerei atravessar este país durante esta viagem. E porque não?! Apesar de algumas pessoas que conheci ao longo do caminho me terem desaconselhado a fazê-lo sempre me mantive sereno à espera de sentir o estado das coisas no terreno.Depois de ter falado com várias pessoas locais, ruandeses e tanzanianos, e todos eles me dizerem ter estado à pouco tempo no Burundi sem qualquer tipo de problema, não havia qualquer razão para não ir.
O Tanganyika e as suas praias: até me esqueço que estou a milhares de quilómetros do Oceano
Ambiente agradável num dos locais mais "cool" de Bujumbura
Geograficamente o Burundi é um pequeno país, encravado entre o Ruanda a norte, a Tanzânia a leste e a sul e a República Democrática do Congo a oeste.
É considerado um dos países mais pobres de África e está na lista dos dez mais pobres do Mundo, assolado por longas disputas politicas que, à semelhança do Ruanda, remontam a disputas tribais de longa data e que foram propositadamente acentuadas durante a ocupação europeia.
Além dos conflitos étnicos locais a constante tensão com os países vizinhos, contribui para o agravar da sua condição social e económica.
É considerado um dos países mais pobres de África e está na lista dos dez mais pobres do Mundo, assolado por longas disputas politicas que, à semelhança do Ruanda, remontam a disputas tribais de longa data e que foram propositadamente acentuadas durante a ocupação europeia.
Além dos conflitos étnicos locais a constante tensão com os países vizinhos, contribui para o agravar da sua condição social e económica.
Também neste pais foi deixada uma pesada e triste herança colonial.
Em 1885, na Conferência de Berlim, as potências europeias partilharam grande parte do território africano. O território do actual Burundi foi entregue à Alemanha e com a chegada dos colonos as antigas rivalidades entre hutus (maioria da população) e a minoria tutsi, que exercia um poder monárquico foram agravadas.
Os tutsis ganharam status de elite privilegiada, com acesso exclusivo à educação, às Forças Armadas e a postos na administração estatal e os hutus foram excluídos da participação activa na sociedade.
Em 1885, na Conferência de Berlim, as potências europeias partilharam grande parte do território africano. O território do actual Burundi foi entregue à Alemanha e com a chegada dos colonos as antigas rivalidades entre hutus (maioria da população) e a minoria tutsi, que exercia um poder monárquico foram agravadas.
Os tutsis ganharam status de elite privilegiada, com acesso exclusivo à educação, às Forças Armadas e a postos na administração estatal e os hutus foram excluídos da participação activa na sociedade.
Com a derrota da Alemanha na Primeira Guerra Mundial, o Burundi foi unificado ao Ruanda, ficando sob tutela da Bélgica, que mantém a mesma politica de demarcação tribal que vinha a exercer no país vizinho.
Em 1962, o país torna-se independente, sob monarquia tutsi e com a saída da força militar belga, a luta pelo poder transforma-se em conflito étnico e alcança toda a sociedade. Os ressentimentos acumulados desde o período colonial explodem em 1965, quando uma rebelião hutu é esmagada pelo governo.
No ano seguinte, a monarquia é derrubada por um golpe de Estado liderado pelo primeiro-ministro, Michel Micombero, que proclama a república e assume a Presidência.
As décadas seguintes são marcadas por uma sucessão de golpes de Estado e violência entre as duas tribos.
Uma das piores matanças da história do Burundi tem início em Outubro de 1993, quando oficiais tutsis fuzilam o primeiro presidente eleito democraticamente, o oposicionista hutu Melchior Ndadaye, no cargo há quatro meses.
Os hutus reagem e tem início a guerra civil, que dura até hoje, na qual já morreram mais de 200 mil pessoas e mais de 1 milhão se tornaram refugiados.
Em Fevereiro de 1994, o hutu Cyprien Ntaryamira é escolhido para a Presidência e dois meses depois Ntaryamira e o presidente do Ruanda, Habyarimana, são mortos num atentado que destrói o avião no qual viajavam.
À semelhança do Ruanda também no Burundi começa uma nova fase de violência.
Os embates prosseguem até que o exército, dominado por tutsis, através de um golpe de Estado, toma o poder em 1996.
As Nações vizinhas impõem sanções económicas e isolam o Burundi. A situação do país piora.
A agricultura, base económica do país, é arrasada pela guerra, o défice público cresce e a dívida externa passa a consumir mais da metade do valor das exportações.
Em 1998 começam as negociações para um processo de paz no Burundi e nos dias de hoje, apesar da aparente calma, as tensões sociais e politicas mantêm-se.
Porém, apesar da triste história, o Burundi é um dos mais belos países da África, oferecendo belíssimos parques nacionais e o fabuloso Lago Tanganyika que oferece paisagens magníficas e belas praias.
Além das paisagens, algumas de cortar a respiração, os burundianos mostram uma "joie de vivre" especial, acentuada por décadas de sofrimento.
Nas noites dos fins-de-semana as discotecas e bares em Bujumbura estão apinhadas de gente local, sendo a noite da cidade uma das mais badaladas desta região de África.
Depois de um fim-de-semana de descanso e umas voltas pela cidade fiz as malas e voltei à estrada.
O cenário é simplesmente fabuloso; é uma pena o país ser tão pequeno. No final de meio dia de viagem e depois e percorrer grande parte da distância junto do lindo lago já estava a entrar na Tanzânia.
Em 1962, o país torna-se independente, sob monarquia tutsi e com a saída da força militar belga, a luta pelo poder transforma-se em conflito étnico e alcança toda a sociedade. Os ressentimentos acumulados desde o período colonial explodem em 1965, quando uma rebelião hutu é esmagada pelo governo.
No ano seguinte, a monarquia é derrubada por um golpe de Estado liderado pelo primeiro-ministro, Michel Micombero, que proclama a república e assume a Presidência.
As décadas seguintes são marcadas por uma sucessão de golpes de Estado e violência entre as duas tribos.
Uma das piores matanças da história do Burundi tem início em Outubro de 1993, quando oficiais tutsis fuzilam o primeiro presidente eleito democraticamente, o oposicionista hutu Melchior Ndadaye, no cargo há quatro meses.
Os hutus reagem e tem início a guerra civil, que dura até hoje, na qual já morreram mais de 200 mil pessoas e mais de 1 milhão se tornaram refugiados.
Em Fevereiro de 1994, o hutu Cyprien Ntaryamira é escolhido para a Presidência e dois meses depois Ntaryamira e o presidente do Ruanda, Habyarimana, são mortos num atentado que destrói o avião no qual viajavam.
À semelhança do Ruanda também no Burundi começa uma nova fase de violência.
Os embates prosseguem até que o exército, dominado por tutsis, através de um golpe de Estado, toma o poder em 1996.
As Nações vizinhas impõem sanções económicas e isolam o Burundi. A situação do país piora.
A agricultura, base económica do país, é arrasada pela guerra, o défice público cresce e a dívida externa passa a consumir mais da metade do valor das exportações.
Em 1998 começam as negociações para um processo de paz no Burundi e nos dias de hoje, apesar da aparente calma, as tensões sociais e politicas mantêm-se.
Porém, apesar da triste história, o Burundi é um dos mais belos países da África, oferecendo belíssimos parques nacionais e o fabuloso Lago Tanganyika que oferece paisagens magníficas e belas praias.
Além das paisagens, algumas de cortar a respiração, os burundianos mostram uma "joie de vivre" especial, acentuada por décadas de sofrimento.
Nas noites dos fins-de-semana as discotecas e bares em Bujumbura estão apinhadas de gente local, sendo a noite da cidade uma das mais badaladas desta região de África.
Depois de um fim-de-semana de descanso e umas voltas pela cidade fiz as malas e voltei à estrada.
O cenário é simplesmente fabuloso; é uma pena o país ser tão pequeno. No final de meio dia de viagem e depois e percorrer grande parte da distância junto do lindo lago já estava a entrar na Tanzânia.
Além da estrada que percorre as margens do Tanganyika passei para o interior onde são as montanhas a dominar a paisagem.
A chuva resolveu aparecer (e em abundância) o que apesar de desconfortável me proporcionou momentos deliciosos com a população local.
Entre paragens para falar com locais, muitas fotografias, o lago e as montanhas, estradas de asfalto e terra batida, o dia correu muito bem e cheguei, a meio da tarde à fronteira com a Tanzânia.
A estrada de terra batida acabou e uma excelente pista de asfalto deu as boas vindas a um país bastante mais desenvolvido que o seu vizinho.
Agricultura nas margens do Lago
Locais ao longo da estrada
Abrigando-me da chuva torrencial. Eu e dezenas de miúdos que corriam
para ver o mzungo e a Miss An
Ao longo da estrada
Já no interior do país, as estradas de montanha dominam a paisagem
Muita terra batida
Até chegar à fronteira com a Tanzânia, país bastante mais desenvolvido
Já na Tanzânia, com vista para as montanhas no Burundi e atrás o grande Lago. Fabuloso.
Na Tanzânia, agora na parte Oeste, sempre junto ao grande lago, segui até Kigoma, uma cidade histórica e muito importante na antiga rota de comércio desta região durante séculos.
Aí iria começar uma parte inesquecível da minha aventura: uma viagem pelo lago Tanganyika para Sul, quase até à Zâmbia, a bordo de um barco no mínimo curioso: o MV Liemba.
Sem comentários:
Enviar um comentário